domingo, 3 de dezembro de 2017

MADRIGALENTE

Franco Jatubá[i]
Que não diriam todas as maldosas
flores, a rir, nas ramas viridentes,
se eu te beijasse a boca? Maldizentes,
talvez dissessem proibidas cousas...

Muito daria que dizer às rosas
e aos lírios, faladores, insolentes...
De nossas duas almas inocentes
fariam duas almas criminosas!

Deixa primeiro que o Sol morra. Apenas
a noite chegue, tatalando as penas
cheias d’orvalho e de melancolia,

nos beijaremos tanto, que dos ninhos
irão fugindo os doidos passarinhos,
cuidando ouvir a música do dia!

Alagoas, 1899.










[i] Pseudônimo de Francisco Remígio de Araujo Jatobá. Algumas referências o tratam como Francisco Remígio de Albuquerque Jatobá, adotando o sobrenome da mãe.
Nasceu em Murici – AL, a 20/01/1872, segundo o ABC DAS ALAGOAS. Entretanto, o jornal Gutenberg, de 2 de abril de 1907, noticiando a sua morte, diz que ele nasceu em Maceió.
Faleceu em Maceió - AL a 31/03/1907.
Poeta, jornalista, funcionário público.  Era filho de José Inácio de Araújo Jatobá (que foi administrador da Cadeia de Maceió) e da “modista” Bárbara Cordeiro de Albuquerque Jatobá. Era tio do também poeta Cypriano Jucá (filho da sua irmã Maria Grabriela e de Romualdo da Silva Jucá).
Iniciou seus estudos em Maceió, mas não chegou a completar os preparatórios. Funcionário da Alfândega de Maceió (1890), escriturário do Tesouro Federal, no Rio de Janeiro, nomeado em 1895 e demitido em 1903. Seus artigos foram reunidos em um volume, após sua morte.
Patrono da cadeira 28 da Academia Alagoana de Letras. No jornalismo, combateu a denominada Oligarquia Maltina.
Obra: O Brasil e o Insulto Argentino, Maceió, Imprensa Oficial/ Liv. Fonseca, 1907, sob o pseudônimo de Sargento Albuquerque (edição confiscada por ordem do Ministro das Relações Exteriores). Segundo Romeu de Avelar, que o incluiu na sua Coletânea de Poetas Alagoanos, o Barão do Rio Branco teria interferido junto ao editor para sustar a publicação.  É ainda de Romeu de Avelar a informação de que teria deixado inúmeros poemas inéditos e uma coletânea de contos orientais. Fundador e redator, em 1892, de O Labor (hebdomadário literário, instrutivo e recreativo dedicado à mocidade alagoana.) e do Correio de Maceió, e colaborador de O Gutenberge do Correio de Alagoas. Jucá Santos afirma que deixou inédito o livro de poesia Vale de Lagrimas, o poemeto O Sapo, o livro Beduínos (contos orientais), Judéia (contos bíblicos) e o drama Ódio de Família, de um prólogo e quatro atos, todos na guarda de sua irmã, os quais foram destruídos após a morte desta.

Fonte principal: ABC DAS ALAGOAS. BARROS, Francisco Reinaldo Amorim de.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia