sábado, 7 de maio de 2016

ALBUQUERQUE LINS, O ALAGOANO QUE GOVERNOU SÃO PAULO

Por Etevaldo Amorim
À época do Império, alguns paulistas governaram Alagoas: José Joaquim Machado de Oliveira (14/12/1834); Antônio Moreira de Barros (09/09/1867 a 22/05/1868); Antônio Cario da Silva Prado (de 05/09/1887 a 16/04/1888). Mas pouca gente sabe que um alagoano já governou São Paulo. Trata-se de Albuquerque Lins, que esteve à frente da governança do maior estado do País de 1º de maio de 1908 a 1º de maio de 1912.
Manuel Joaquim de Albuquerque Lins nasceu em São Miguel dos Campos (AL) no dia 20 de setembro de 1852. Era filho de Manuel Joaquim de Albuquerque Lins e de Orminda da Rocha e Silva. Seu pai era dono de engenho de açúcar. Era primo de João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, o visconde de Sinimbu, que foi presidente do Conselho de Ministros do Império entre 1878 e 1880.
Fez seus primeiros estudos em sua cidade e aos 14 anos seguiu para Salvador, na Bahia, onde estudou humanidades no Seminário Arquiepiscopal. Sentindo vocação eclesiástica, também cursou teologia, mas, apesar de ter recebido os aplausos dos mestres, não foi ordenado por não ter a idade exigida. Resolveu então, em 1871, ir completar seus preparatórios em Pernambuco. Com efeito, em janeiro de 1873, desembarca do vapor Guará, no Recife, para ingressar na Faculdade de Direito[i], recebendo o grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais em 1877, em companhia de Rosa e Silva, J. J. Seabra, Leão Velloso, José Paranaguá e outros. Em novembro daquele ano, deixa o Recife a bordo do vapor Marquês de Caxias.[ii]
Nesse mesmo ano, volta a Alagoas, sendo nomeado Promotor Público no município de Anadia. Desempenhou a função durante pouco mais de um ano, até transferir-se, a conselho do visconde de Sinimbu, para a Província de São Paulo. Aí foi Juiz Municipal e de Órfãos de Santos e São Vicente e Juiz de Direito de São Simão e Ribeirão Preto, sendo posteriormente removido, a pedido, para Tatuí. Nomeado, em 1885, Chefe de Polícia do Paraná, não chegou a tomar posse em virtude da queda do Gabinete do Conselheiro Saraiva e o afastamento dos liberais do poder em agosto daquele ano. Pedindo exoneração da magistratura, foi declarado juiz de direito avulso e fixou definitivamente residência na capital paulista, onde se dedicou à advocacia e passou a colaborar na imprensa.
Em 1881, casa-se com a Srtª Helena de Souza Queiróz, filha do Barão Souza Queiroz[iii], de tradicional e rica família Sousa Queirós, de muita influência no Partido Liberal da Província de São Paulo, sendo eleito Deputado Provincial pelo 5° Distrito para a Legislatura 1888-1889, que seria a última do Império.
Em 1889, foi nomeado Presidente da Província do Rio Grande do Norte, pelo Ministério Ouro Preto, mas não chegou a tomar posse.
Albuquerque Lins, Secretário da Fazenda do 
Estado de São Paulo. O MALHO, Ano VI, nº 244, 
18 de maio de 1907.

Foi eleito vereador à Câmara Municipal de São Paulo para o triênio de 1899-1902 e escolhido por seus pares, por unanimidade, presidente da casa. Em 16 de dezembro de 1901 foi eleito para a vaga de Paulo de Sousa Queirós no Senado Estadual, e tomou posse em 8 de abril de 1902.
Renunciou em 2 de maio de 1904, quando foi nomeado secretário da Fazenda pelo presidente do estado Jorge Tibiriçá (1/5/1904-1/5/1908). Exerceria o cargo até 31 de outubro de 1907, quando foi substituído por Olavo Egídio de Sousa Aranha. À frente da secretaria, atuou em defesa da política de valorização do café adotada em face da grande safra cafeeira do período, que abriu uma tremenda crise econômica no estado e muito preocupou o governo.
Albuquerque Lins, Presidente de São Paulo. Foto:
Brazil Magazine.

Como Presidente de São Paulo, graças à sua gestão na área financeira, quando da disputa pela indicação do candidato à sucessão de Jorge Piratininga, venceu o ex-presidente Campos Sales na convenção do PRP. Formada a chapa governista, foi eleito em 1º de março de 1908, tendo como vice Fernando Prestes de Albuquerque, e tomou posse em 1º de maio de 1908, com mandato até 1º de maio de 1912.
Panorama da Capital de São Paulo, à época do Governo do Dr. Albuquerque Lins. Foto: Revista Fon-Fon, 1908.
Em sua administração à frente do governo de São Paulo, prosseguiu em sua política de valorização do café; incrementou a entrada de imigrantes, cujo número chegou a 185.367; fomentou a construção de numerosos grupos escolares, tanto na capital como no interior; transformou todas as escolas complementares em escolas normais primárias; criou institutos profissionais na capital e nas cidades de Amparo e Jacareí; aprovou a planta e orçamento para a edificação das escolas normais de Pirassununga e Botucatu; criou a diretoria geral da Instrução Pública, em substituição à Inspetoria do Ensino; iniciou a reforma do regimento penitenciário, tendo batido a pedra fundamental da penitenciária do estado; criou o Serviço Florestal, visando a desenvolver a silvicultura; criou o Patronato Agrícola; criou os Bancos de Custeio Rural; e lançou os alicerces do palácio das Indústrias, localizado no parque Dom Pedro II, no centro da capital. Entre seus auxiliares estavam Carlos Guimarães, na Secretaria da Fazenda, e Washington Luís, mais tarde presidente da República, na Secretaria da Justiça.
O Presidente Albuquerque Lins participa do lançamento da pedra fundamental da construção do novo Presídio de São Paulo, que ficaria conhecido como Carandiru, tendo a sua direita (esquerda de quem olha) o General Comandante da 10ª Região Militar e o Dr. Carlos Guimarães, Secretário do Interior, em 1911.
Palacete de residência do Dr. Albuquerque Lins, em São Paulo, na Rua da Liberdade, 87. Brazil Magazine, Ano IV, 41-41, 1920.

Nas eleições para presidente da República em 1910, foi candidato a vice-presidente na chapa civilista de Rui Barbosa, derrotada pela chapa Hermes da Fonseca-Venceslau Brás. Teve assim perturbados os dois últimos anos de seu governo, quando ocorreu uma tentativa de intervenção federal em São Paulo pela vindita do marechal Hermes, afinal evitada. Ao término de seu governo, transferiu o cargo para o sucessor Francisco de Paula Rodrigues Alves.
Teatro Lírico, Rio de Janeiro. Flagrante da Convenção Civilista, realizada em 22 de agosto de 1909, que indicou o Senador Rui Barbosa para Presidente e Albuquerque Lins para Vice-Presidente da República. Foto: FON-FON, Ano III, nº 35. 28.08.1909.
Mesa Diretora dos trabalhos da Convenção. De pé, fazendo a chamada dos convencionais, o Deputado paulista Cincinato Braga. Sentados: Deputado Álvaro de Carvalho, Senador José Marcelino e Deputado Galeão Carvalhal. Foto: Careta, Ano II, Nº 65, 28 de agosto de 1909.
Em Campanha, recebendo Rui Barbosa nos jardins do Palácio do Governo de São Paulo. Foto: Brazil Magazine.
A Chapa Rui Barbosa/Albuquerque Lins.

Em 8 de fevereiro de 1913 foi eleito senador estadual para o período de 1913 a 1921, e em 29 de abril de 1922 foi reeleito para o período de 1922 a 1930. Como parlamentar, discutiu os projetos de lei de criação de bancos agrícolas e outras medidas de interesse para a economia paulista. Foi membro da comissão diretora do PRP, como grande capitalista foi presidente do Banco de São Paulo e da Companhia Mecânica Importadora, e sempre ligado a agricultura, foi importante proprietário rural em Limeira. Foi Presidente do Banco Popular de São Paulo, depois denominado Banco Provincial de São Paulo.
Albuquerque Lins deixa o Palácio do Governo de São Paulo, sendo acompanhado pelo seu sucessor Rodrigues Alves. Careta, 18 de maio de 1912.
Já como Ex-Presidente de São Paulo, o Dr. Albuquerque Lina, tendo a seu lado a filha Helenita, os filhos Manoel e Abel e a esposa Helena, no vapor Astúrias, em viagem para a Europa. 
Faleceu em São Paulo, a 7 de janeiro de 1926, em pleno exercício do mandato de senador estadual. Seu sepultamento se deu no dia 8 de janeiro de 1926, às 17:00 horas, saindo da sua residência à Rua da Liberdade, 87[iv].
Funerais de Albuquerque Lins, vendo-se à frente do cortejo o Dr. Washington Luiz, que viria a ser Presidente da República e o Dr. Carlos de Campos, então Presidente de São Paulo.  Foto: Fon-Fon, 16 de janeiro de 1926.
Outro aspecto do cortejo fúnebre do Dr. Albuquerque Lins. Foto: Fon-Fon.
Deixou fortuna particular calculada em cerca de 10.000 contos de réis. Era sócio de uma casa Comissária de Exportação em Santos, abastado fazendeiro e proprietário de diversos imóveis na Capital Paulista, inclusive o Palacete (com teatro) Santa Helena, na Praça da Sé.
De seu casamento com Helena de Souza Queirós, teve seis filhos: Joaquim, José, Antônio, Carlos, Álvaro, Anna Helena, Helenita e Maria.
Em sua homenagem foi criado, pela Lei nº 1.708, de 27 de dezembro de 1919, o município de Albuquerque Lins, que, em 1926, teve alterada a denominação para Lins. (Antônio Sérgio Ribeiro)
A cidade de Albuquerque Lins (atualmente Lins), no Estado de São Paulo.

________________________
FONTES:
AMARAL, A. Dicionário; Correio Paulistano (8/1/1926); EGAS, E. Galeria (v.2); Folha da Manhã (8/1/1926); FONSECA, A.; IGNÁCIO, A.; BRISOLLA, C. São Paulo; Municípios e distritos; RIBEIRO, J. Chronologia; RIBEIRO, A. Governantes..
CPDOV – FGV
ABC DAS ALAGOAS, FRANCISCO REYNALDO AMORIM DE BARROS
Fundação Casa Rui Barbosa








[i] Diário de Pernambuco, 10 de janeiro de 1873.
[ii] Diário de Pernambuco, 16 de novembro de 1877.
[iii] Falecida a 4 de abril de 1936. A Nação, 5 de abril de 1936.
[iv] A Manhã, RJ, 8 de janeiro de 1926, p. 2

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia