segunda-feira, 21 de março de 2016

MONSENHOR FREITAS

Por Etevaldo Amorim

            Filho do Coronel José de Freitas Machado e de D. Maria Pastora Machado, JOSÉ DE FREITAS MACHADO FILHO nasceu no município de Pão de Açúcar, no dia 19 de abril de 1857. 

Monsenhor Freitas. Acervo da família.
Iniciou seus estudos eclesiásticos no Seminário Arquiepiscopal de Estudos Preparatórios, em Salvador. Notícia do jornal O Monitor, edição de 7 de novembro de 1880, dá conta da sua aprovação, com distinção, nos exames de Português.

Sua carreira eclesiástica teve início com o título de Subdiácono, que lhe foi conferido durante Retiro Espiritual dirigido pelo Monsenhor Joaquim Arcoverde[i], no período de 11 de dezembro de 1884 a 20 de janeiro de 1885. A cerimônia foi realizada na Capela do Seminário de Olinda. Já sua ordenação como Diácono ocorreu em 28 de dezembro de 1884, na capela episcopal do convento da Soledade.[ii]

A ordenação plena, no Seminário de Olinda, ocorreu em 22 de março de 1885, conferida pelo bispo D. José Pereira da Silva Barros[iii]. Nesse mesmo mês, recebeu Provisão “de uso de ordens, confessor e pregador, por tempo de um ano” em Pão de Açúcar[iv]. Tanto que, em abril, toma, no Recife, o vapor nacional Caravelas e segue para Pão de Açúcar. Para Coadjutor da Paróquia de Pão de Açúcar, recebeu Provisão do Bispado do Recife em junho de 1885, segundo notícia do Jornal do Recife, de 6 de junho de 1885, durante o paroquiato do primeiro vigário, o Pe. Antônio José Soares de Mendonça.

D. José Pereira da Silva Barros.
Em provisão de setembro de 1885, foi investido na função de Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em de Mata Grande, pelo período de um ano, sendo exonerado da coadjutoria de Pão de Açúcar.[v]  Mais tarde, por provisão de junho de 1886, foi encarregado também da Freguesia de Buique-Pernambuco, apenas no território que compreendia o Distrito de Paz de Gameleira.[vi] Essa provisão foi renovada por mais um ano, conforme o Jornal do Recife, edição de 14 de setembro de 1886.

Enquanto exercia as funções de Vigário de Mata Grande, segundo Aldemar de Mendonça, em Monografia de Pão de Açúcar, aconteceu-lhe um fato deveras importante:

“altas horas da noite alguém lhe bate à porta. Abre e o que se lhe depara é algo aterrador: três homens mascarados lhe colocaram uma venda. Constrangem-no a acompanhá-los para onde ignora. E na escuridão da noite, a cavalo, anda algumas léguas. Depois o desmontam e lhe tiram a venda. Naquele quarto da casa então uma mulher, moça, deitada e, junto, um recém-nascido. A mulher se confessa, certamente pela última vez. Deve ter sido, esta, a sua última vontade. Depois colocam novamente a venda no padre e retornam a sua residência, onde lhe é retirada, finalmente, a venda.”

Exerceu funções de grande relevância. Foi Vice-Reitor do Seminário de Olinda; Escrivão da Câmara Eclesiástica e Secretário do Governo do Arcebispado de Recife e Olinda-PE e, ainda, Protonotário Apostólico[vii]. Sua posse na dignidade de Protonotário Apostólico adinstar participatium se deu no dia 16 de março de 1919, em cerimônia realizada na Capela do Asilo da Tamarineira.  (Revista Maria, Ano VII, Nº 4, de abril de 1919). Era, desde 16 de setembro de 1905, era Pelado Doméstico de Sua Santidade.[viii] Foi Capelão do antigo Asilo dos Alienados, depois chamado Hospital de Doenças Nervosas e Mentais, substituindo o Monsenhor Marcolino Pacheco do Amaral.
O Monsenhor Freitas ao lado de seus irmãos: Francisco,
Manoel Antônio e Miguel.

Quis o destino que o Monsenhor Freitas estivesse, outra vez, à frente da Paróquia da sua terra natal. Em 1906, estando em férias junto a seus familiares, deu-se, a 16 de março, o falecimento do Padre Mendonça. Coube, então, a Dom Antônio Brandão, expedir Provisão para que ele dirigisse, interinamente, a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus até a posse do novo pároco, o Pe. José Castilho de Omena, em 3 de maio daquele ano.


            No dia 19 de outubro de 1920, empreendeu uma viagem a Pão de Açúcar, talvez a última, segundo notícia do Diário de Pernambuco, de 22 daquele mês e ano. Em 1923, em viagem de férias, foi ao Rio de Janeiro, ficando hospedado da residência do Arcebispo Coadjutor.[ix]

O Monsenhor Freitas faleceu no Recife, às 12:30 h do dia 6 de fevereiro de 1928, em sua residência na chácara destinada ao Capelão do Hospital de Doenças Nervosas e Mentais, na Tamarineira, cabendo ao Cônego Luiz Gonzaga da Silva ministrar-lhe a extrema unção.


Diz ainda o Jornal do Recife, de 7 de fevereiro de 1928:

“Às 15:00 horas de ontem, foi o corpo transportado da residência do ilustre extinto, em rico ataúde roxo, para a capela do Asilo pelos cônegos José Leal e Luiz Gonzaga da Silva, vigário de Santo Antônio, padres Eustáquio de Queirós, Marçal Pedrosa, Dr. Soares Amorim, Getúlio Cavalcanti e irmãs de Santana, que serviam no Asilo”.

Monselhor Freitas_revista Maria_1928.

            Durante a sua digna carreira no clero de Pernambuco e de Alagoas, foram Bispos e Arcebispos de Recife e Olinda: Dom José Pereira da Silva Barros (1881-1890); Dom João fernando Tiago Esberard (1890-1893); Dom Manoel dos Santos Pereira (1893-1900); Dom Luiz Raimundo da silva Brito (1901-1915); Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra (1916-1921); Dom Miguel de Lima Valverde (1922-1951).
Dom Miguel Valverde, Arcebispo quando do falecimento
do Mons. Freitas. Fonte: Vida Doméstica_Setembro 1944.
            Segundo o Jornal do Recife, o Monsenhor Freitas “era um sacerdote de raras virtudes. Bondoso, caritativo, adstrito aos seus deveres de padre católico, soube honrar a sua classe, que perde com a sua morte um dos membros mais dignos”.

Em sua homenagem, foi denominada uma avenida na cidade de Jacaré dos Homens, berço de sua família desde que integrava o território do Município de Pão de Açúcar e, nesta cidade, uma escola: a Escola Normal Monsenhor Freitas, destinada à formação de professoras.




[i] Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1870-1923). Fonte: Dom Arcoverde – o Cardeal dos Sertões, Marjone Socorro Farias de Vasconcelos Leite. Universidade Federal de Pernambuco, 2004.
[ii] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 13 de janeiro de 1885, p. 3.
[iii] JORNAL DO RECIFE, 7 de fevereiro de 1928.
[iv] JORNAL DO RECIFE, 7 de abril de 1885.
[v] JORNAL DO RECIFE, 22 de setembro de 1885.
[vi] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 6 de julho de 1886, p. 3
[viii] Atualmente conhecido como Prelado de Honra, Prelado Doméstico de Sua Santidade é um título honorífico que é dado por uma concessão especial da Santa sé aos padres. Os detentores desse título se diferencia dos demais pela sua indumentária.
[ix] A Cruz, RJ, 10 de junho de 1923, p. 3.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia