sábado, 13 de fevereiro de 2016

MANOEL LEITE DE NOVAES MELLO

Por Etevaldo Amorim
O Dr. Manoel Leite de Novaes Mello.Acervo
 da Drª Maria do Carmo de Novaes Schwab.
Alagoano, procedente da região sertaneja do São Francisco, ele foi um dos mais destacados políticos do Estado do Espírito Santo no período que se verificou entre o ocaso da monarquia e os primórdios da República. Numa família, em que todos os homens, desde o pai até os três irmãos, tiveram atuação política em Alagoas, ele a exerceu em benefício do povo capixaba, com base no município de Cachoeiro do Itapemirim
Manoel Leite de Novais Melo nasceu em Pão de Açúcar, a 10 de junho de 1849. Era filho do Major João Machado de Novaes Mello, barão de Piaçabuçu, e de Maria José de Novaes Mello. Eram seus irmãos: João Marinho de Novaes Mello, que foi membro do Conselho Municipal; o Dr. Miguel de Novaes Mello, que foi o primeiro Prefeito de Pão de Açúcar; e Antônio Ferreira de Novaes Mello, que foi Deputado Provincial, os dois últimos formados em Direito. De mulher, apenas uma: Josephina de Novaes Paes Barreto.
Pão de Açúcar-AL em 1888, vendo-se o sobrado de residência
da família Novaes Mello. Foto: Adolpho Lindemann.

No dia 30 de novembro de 1872, colou Grau na Escola de Medicina da Bahia[i], defendendo a tese: “Fratura do Radius e seu tratamento”. No ano seguinte, substituindo o Dr. João Cullen, foi nomeado médico da Colônia do Rio Novo[ii], na Província do Espírito Santo, a partir de 15 de abril, permanecendo até 15 de junho de 1877, período em que enfrentou um poderoso surto de Varíola.



Cachoeiro do Itapemirim em 1877. Foto: Albert Richard Dietz

Deixando a Colônia, transferiu-se para Cachoeiro de Itapemirim, onde exerceu a clínica médica e se estabeleceu em diversos ramos de atividade. Sua ida para aquela importante cidade capixaba teria sido, provavelmente, por intermédio do seu primo, Padre Manoel Leite de Sampaio e Mello, vigário daquela Paróquia. Concomitantemente, clinicavam na vila de Benevente, atual cidade de Anchieta.
Vila de Benevente, atual Anchieta-ES, 1877.  Foto: A. R. Dietz
Em 1º de janeiro de 1878, casou-se com Maria Bárbara de Sousa Monteiro (Maricota), filha do Capitão Francisco de Souza Monteiro e de D. Henriqueta Rios, irmã mais velha de Jerônimo e de Bernardino Monteiro, que seriam governadores do Espírito Santo, e de dom Fernando de Sousa Monteiro, bispo do Espírito Santo de 1902 a 1916. O casal teve os filhos: João (que faleceu com apenas 57 dias de idade), Maria José (que faleceu antes de completar 8 anos, de cólera morbus), Maria Stella (professora, botânica e historiadora), Henrique (engenheiro que fez importante carreira na política e na administração capixaba), Thereza, Theonila, Benfindo (engenheiro agrônomo com atuação relevante na administração federal e na estadua.) e Theonila 2ª, posto que a primeira falecera prematuramente.


O Dr. Manoel Leite de Novaes Mello com a família. Acervo: Drª Maria do Carmo de Novaes Schwab.
Em 20 de maio de 1880, instalou a Farmácia Novaes, na rua 25 de Março, no centro de Cachoeiro do Itapemirim. Em 26 de junho de 1887, traspassou o estabelecimento para o farmacêutico Bernardo Horta de Araújo.[iii]
Anúncio da Famácia Novaes.

Em 1882, empreendeu uma viagem a sua terra natal, talvez a única desde que se formou na Bahia. Saudoso de sua família, retornou para abraçar os seus entes queridos, mormente depois da terrível tragédia que ceifou a vida do seu irmão Antônio Ferreira de Novaes Mello, no desastre da Estrada de Ferro Paulo Afonso, em Piranhas.
Ao menos para se ter uma ideia do quanto sacrifício se fazia numa viagem dessas, vale descrevê-la, valendo-nos dos registros em jornais da época, que tinham por hábito citar o nome dos passageiros dos diversos vapores.
No dia 26 de março[iv], levando consigo um escravo, partiu de Cachoeiro do Itapemirim, a bordo do vapor Maria Pia[v] da Companhia Espírito Santo Campos para, no dia 31[vi], chegar a Vitória. Daí, no dia seguinte, tomou o paquete a vapor Espírito Santo[vii] e seguiu para a Bahia. De lá, já no dia 10 de abril, tomou o São Salvador[viii] demandando o rio São Francisco, provavelmente passando por Penedo e, de lá, subindo pelo rio até Pão de Açúcar. Durante a sua estada, mereceu a seguinte nota do jornal pão-de-açucarense O Trabalho, reproduzida em O CACHOEIRANO, 9 de julho de 1882, p:
“O Sr. Dr. Manoel Leite, durante a sua estada neste lugar, prestou como médico grandes serviços à classe menos abastada, provando mais uma vez as suas elevadas habilitações, e gênio bondoso que sempre teve.
Foi acompanhado em seu embarque por avultado número de amigos, que voltaram saudosos pela separação de tão distinto cavalheiro.
De nossa parte, abraçamos o Dr. Manoel Leite, a quem desejamos feliz trajeto até a sua atual residência. ”
A 12 de junho estava ele em pleno regresso, conforme registra o jornal carioca Gazeta de Notícias, de 13 de junho de 1882, em que se encontra o seu nome no rol dos passageiros do Paquete Bahia. No dia 25, toma o Vapor Maria Pia[ix] e segue para Caravelas até chegar, no dia 27 de junho, a Cachoeiro, ocasião em que foi recebido por grande número de amigos[x].
Naquele mesmo ano, enfrentando um surto de varíola em Cachoeiro do Itapemirim, e antes que o Governo do Estado lhe enviasse a vacina, vacinou gratuitamente 182 pessoas[xi], evitando assim que a doença se propagasse e fizesse maior número de vítimas.


Vitória-ES, em 1877. Foto: Albert Richard Dietz.

Completamente ambientado em Cachoeiro, foi eleito, em 1885, Presidente do Grêmio Bibliotecário Cachoeirense, do qual foi sócio-fundador.
Sua carreira política contempla os cargos eletivos de vereador na Câmara Municipal de Cachoeiro, da qual foi presidente, em 1890; Deputado Provincial para a Legislatura 1876-1877 e Deputado Federal. O jornal O Cachoeirano, referindo-se à eleição do Dr. Novaes Mello para Vereador pelo Partido Liberal, em 26 de dezembro de 1887, escreve:
“Foi eleito, por maioria de votos, o candidato do Partido Liberal, Dr. Manoel Leite de Novaes Mello, do qual, fazendo jus a sua inteligência e atividade, devemos tudo esperar, convictos como estamos de que SS saberá corresponder ao sufrágio do povo, trabalhando em prol deste mesmo povo e esforçando-se para que o município caminhe na senda do progresso. Na nossa imparcialidade, não queremos saber se quem governa é Liberal, Conservador ou Republicano; o que queremos é que os cargos sejam exercidos por pessoas que saibam exercê-los e teremos grande satisfação se mais tarde à vista dos fatos pudermos felicitar os nossos munícipes pela escolha que fizeram do Dr. Novaes Mello”.
Em 1889, mudou sua residência para a Fazenda Cachoeira Grande, a dois quilômetros da cidade, tendo adquirido por 25 contos de réis. Por esta razão, fez publicar no jornal cachoeirense O Constitucional (5 de setembro de 1889), a seguinte nota:
“O Dr. Manoel Leite de Novaes Mello e sua família, tendo mudado a residência para a Fazenda Cachoeira Grande, sem que lhes fosse possível despedirem-se das pessoas que, nesta Vila, os tem distinguido e penhorado com sua amizade e afeição, pedem a todas estas desculpas por aquela falta involuntariamente cometida e esperam que as mesmas relações e recíproca estima continuarão a ser mantidas em sua nova residência, nas proximidades desta Villa. Cachoeiro do Itapemirim, 5 de setembro de 1889. ”
E 28 de maio de 1894, o Dr. Manoel Leite vendeu a fazenda para o Tenente Coronel Francisco Vieira de Almeida Ramos pela importância de 155 contos de réis, além do gado, por 6 milhões e 200 mil réis.[xii]
Em 1896, tornou-se sócio da empresa Novaes, Monteiro, Oliveira & Cia, comissário de café, juntamente com João Marques de Carvalho Braga, Antônio Alves Monteiro e Carlos do Carmo Oliveira.
Quando a Constituição Federal, aprovada em 1891[xiii], aumentou o número mínimo de deputados federais para quatro, o Espírito Santo, que tinha somente dois, realizou eleições para preencher as duas novas vagas em 1892. Foram candidatos do PRC – Partido Republicano Conservador, Novaes Mello e José Horácio Costa, ambos eleitos. Seus mandatos se encerraram em dezembro de 1893.
Nessa ocasião, Novaes Mello já se tornara dissidente, em oposição ao partido e ao governo, participando da criação de uma nova agremiação: o Partido Republicano Federal.
            Em manifestação publicada no Jornal do Comércio, edição de 10 de setembro de 1890, deixa claro o seu posicionamento político no momento em que o Brasil mudava do regime Monarquista para o Republicano:
“Não apedrejei a Monarquia deposta, nem tampouco fiz adesões e orações ao atual estado de coisas. Como brasileiro, desejo que este país tenha estabilidade em suas atuais instituições para seu desenvolvimento e progresso. ”
Faleceu às 18:30 h do dia 12 de setembro de 1898, no então Distrito Federal. Seu sepultamento se deu no dia seguinte, às 16:00 h, no Cemitério de São Francisco Xavier.




[i] Sua Turma era composta de: Paulino Gil da Costa Brandão (baiano de São Felix), João das Chagas Rosa (sergipano de Japaratuba), Cyrillino Pinto de Almeida Castro (pernambucano), Joaquim Onofre Pereira da Silva (mineiro de Montes Claros), Francisco de Paula Alvellos, José Cardoso de Moura Brasil (oftalmologista cearense, autor da fórmula do famoso Colírio Moura Brasil), Bernardo Gomes Coutinho, Francisco Lázaro Tourinho, Rodrigo Aprígio Carvalhal, Antônio Bráulio Ferreira, João Damázio José, Aureliano Macrino Pires Caldas, João Ferreira da Silva, Salustiano José Pedrosa, Manoel Barbosa da Silva, Eduardo José de Araújo, Manoel José de Araújo, Francisco Júlio de Oliveira Pereira, Cândido Alves Machado Freitas, Agostinho Dias Lima, José Pereira dos Santos Portella, Manoel Leite de Novaes Mello, Antônio Amâncio Pereira de Carvalho.
[ii] Fundada em 1866 por imigrantes suíços.
[iii] O Cachoeirano, 3 de julho de 1887, p. 2.
[iv] O Cachoeirano, 2 de abril de 1882.
[v] O Espírito-santense, 2 de abril de 1882, p. 3.
[vi] O Horisonte, 31 de março de 1882, p. 2.
[vii] O Horisonte, 4 de abril de 1882, p.
[viii] Alabana, BA, 11 de abril de 1882, p. 2.
[ix] Gazeta de Notícias, 26 de junho de 1882, p. 3.
[x] O Cachoeirano, 2 de julho de 1882, p. 2.
[xi] Relatório com que o Sr. Dr. Herculano Marcos Inglez de Souza entregou no dia 9 de dezembro de 1882 ao Exmº Sr. Dr. Martim Francisco Ribeiro de Andrada Junior a administração da Província do Espírito Santo.
[xii] O Cachoeirano, 3 de junho de 1894, p. 2.
[xiii] Dicionário Bibliográfico da Primeira República. Alzira Alves de Abreu.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia