domingo, 17 de janeiro de 2016

MARIA ALINE SARMENTO, CARICATURISTA ALAGOANA




 Por Etevaldo Amorim

revista Para Todos_Ano V, Nº 220, 1923, p. 25
Desde os quatro anos de idade já manifestava sua vocação, demonstrando, desde essa primeira infância, a sua curiosa tendência para a caricatura. Como um anatomista, ela recortava as figuras das revistas, separava os membros e, com extrema habilidade, colocava a pernas de uma, os braços e a cabeça de outra, compondo uma nova figura.
Era a sua ânsia e era o seu sonho transportar para o papel tudo quanto via, dando a tudo muita expressão, muita vida e, sobretudo e quase sempre, muito ridículo.[i] Assim foi desenvolvendo suas potencialidades: de bonecos, passou a desenhar crianças e, depois, charges causticantes, especialmente dos tipos “o almofadinha” e “a melindrosa”, bem ao estilo do artista carioca J. Carlos.[ii]
MARIA ALINE DE MORAES SARMENTO nasceu em Maceió e era filha do casal de professores Ignácio de Moraes Sarmento e Maria Francisca Sarmento.
Em janeiro de 1923, a bordo do navio Itaquatiá, seguiu para o Rio de Janeiro, para ali fixar residência, em companhia da irmã Octávia Sarmento.[iii]
Na Capital Federal, procurando aperfeiçoar-se na sua arte, recebeu do famoso caricaturista Raul Pederneiras (irmão do poeta Mário Pederneiras) a opinião de que nada tinha mais a ensinar-lhe, reconhecendo seu talento e o seu enorme potencial. Assim, sob os auspícios de Coelho Neto e de José Maria Goulart de Andrade, inaugurou, no dia 4 de agosto de 1923, um sábado, sua Exposição de Caricaturas, no Salão dos Empregados do Comércio.[iv]
Em fins de dezembro de 1927, participou do lançamento do Almanak do Bacurau[v], dirigido por Lafayette Pacheco, do qual era redator o seu irmão Lourival Sarmento, juntamente com Azevedo Filho. Foi um estrondoso sucesso de vendas: cerca de 3.000 exemplares imediatamente. Foi ela quem pintou a capa, inspirada no personagem de Os Miseráreis, de Victor Hugo: um garoto (um gavroche), com enorme boné, sorriso único e matreiro, malandro, olhando de lado, tendo entre o indicador e o médio da mão esquerda um cigarro aceso.
Seu trabalho foi sendo cada vez mais reconhecido. Tanto que, no dia 14 de março de 1930, inaugurou Exposição na vitrine da Maison Chile, na Rua Nova, Recife, apresentando caricaturas e paisagens decorativas, entre outros trabalhos. Chegou a ser Redatora de Arte de Fon-Fon e Diretora Artística de A Esphera, ambos do Rio de Janeiro,[vi] onde era funcionária do Ministério da Fazenda.
Diz a revista PARA TODOS Ano V, Nº 220, 1923, p. 25:
“Antigamente, com treze anos, as meninas brincavam com bonecas. Hoje, a moda levou essa distração para pessoas mais velhas. Maria Aline Sarmento, que tem aquela idade, foi contra a moda. Tomou de um lápis, de uma folha de papel, pôs os olhos na gente que passava, e conseguiu, sem nenhum custo, uma coleção numerosa de bonecas e bonecos. ”
Eis alguns dos seus trabalhos, em que assinava simplesmente “MARIA”.

REVISTA DA SEMANA, Ano XXIV, nº 12, 17 de março de 1923, p. 34.




REVISTA DA SEMANA, Ano XXIV, nº 12, 17 de março de 1923, p. 34..


Revista Para Todos_Ano V, Nº 220, 1923, p. 25

Auto-caricatura de Aline Sarmento_Gazeta de Notícias_11.08.1923.







[i] Gazeta de Notícias, de 11 de agosto de 1923.
[ii] José Carlos de Brito e Cunha, conhecido como J. Carlos, (Rio de Janeiro, 18 de junho de 1884 — Rio de Janeiro, 2 de outubro de 1950).
[iii] JORNAL DO RECIFE, 28 de janeiro de 1923, p. 5.
[iv] JORNAL DO RECIFE,9 de agosto de 1923, p. 5, reproduzindo notícia do Correio da Tarde.
[v] MACEIÓ DE OUTRORA de Félix Lima Junior.
[vi] JORNAL DO RECIFE, 23 de fevereiro de 1930.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia