sábado, 11 de abril de 2015

MACEIÓ – PRAÇAS E MONUMENTOS (FLORIANO PEIXOTO)

Por Etevaldo Amorim


Um dos mais belos monumentos da capital alagoana é, sem dúvida, o que foi erigido na Praça dos Martírios para homenagear o Marechal Floriano Peixoto.
A iniciativa de fazer essa homenagem foi do jornalista Joaquim Goulart de Andrade, que publicou no jornal Gutenberg, em 28 de janeiro de 1905, um Convite para a fundação de uma Associação que se encarregasse de promover a construção de um monumento à memória do Consolidador da República. Assim, no dia 2 de Fevereiro de 1905, foi fundado o Centro Cívico Floriano Peixoto, cujo presidente honorário era o Senador Euclydes Malta, sob o governo do seu irmão Joaquim Vieira Malta.
Com efeito, depois de uma campanha de donativos encetada pelo Centro Cívico, chegou o dia marcado para o assentamento da Pedra Fundamental. Saindo do sobrado da Sociedade Perseverança, na Praça D. Pedro de Alcântara (Praça da Catedral), os membros da Diretoria do Centro Cívico[i], acompanhados das principais autoridades do Estado, reuniram-se no centro geográfico da Praça, às 5 horas da tarde daquele dia 24 de fevereiro de 1905. Falaram o Intendente, Sr. Sampaio Marques e o orador oficial, Alfredo de Maya.
A Pedra Fundamental, em mármore, continha, em baixo relevo, a inscrição: “Aere perennes – PEDRA FUNDAMENTAL DA ESTÁTUA DO MARECHAL FLORIANO PEIXOTO. 24-II-1905 - Maceió”. Sob a Pedra, e acondicionados em urna de ferro, foram colocados a Ata[ii] de assentamento e exemplares dos jornais do dia, com circulação em Maceió, e mais dois exemplares dos jornais A Tribuna e Gutenberg, em que foram publicados os Estatutos do Centro Cívico Floriano Peixoto. Junto a estes, foram também depositadas moedas de diversos padrões republicanos: $2.000 (Dois Mil Réis), prata, do Império, fundida em 1889; $1.000 (Hum Mil Réis), prata da República, fundida também em 1889; 500 rs prata, fundida em 1890; 200 rs e 100 rs, níquel, primeira emissão da República; 400, 200 e 100 rs, níquel emissão atual; 40 rs e 10 rs, cobre, emissão da República; e 200 rs, prata, fundida em 1869[iii].
Somente em 1907, quando o Senador Euclydes Malta voltou ao Governo do Estado, mandou moldar e fundir a estátua do Marechal. O trabalho foi encomendado ao Sr. Angeli Angiolo[iv], proprietário da Fundição Artística Paulistana. Conhecida como “Sinos Angeli”, iniciou sua tradição de fazer sinos em 1770, na Itália. Em 1898, Angelo Angeli veio para o Brasil e se estabeleceu em São Paulo, à Rua Conselheiro Ramalho, nº 100.
Fundia sinos e também estátuas. Ainda hoje funciona, sob a liderança de Flávio Durso Angeli e Marcos Durso Angeli, a empresa segue pela quarta geração, a mesma tradição na arte de fazer sinos.

Segundo as Instruções da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, assinadas por Manoel Laurindo Martins Junior, publicadas na edição do dia 25 de agosto de 1907 do jornal Gutenberg, o Sr. Angeli ficaria obrigado a “construir e colocar no lugar determinado, na Praça dos Martírios, um Monumento em granito e bronze. O trabalho deveria ser original, representando o Marechal Floriano Peixoto em bronze, com 2,15 m, em uma posição calma e enérgica, apoiado com a mão esquerda na espada e tendo na direita o chapéu de Marechal, devendo todo o monumento constar de um baseamento em granito duro polido, com 3,70 m de altura, sobre 4,20 m de largo na base”, além de outros detalhes.
O Governo pagaria ao construtor 18:000$000 (Dezoito Contos de Réis), sendo Nove Contos por ocasião do desembarque do monumento completo no porto de Jaraguá e Nove Contos de Réis logo que estiver assentado e pronto para ser inaugurado; ou ainda toda a importância ao final do trabalho. Aliás, a autorização para a despesa com a confecção da estátua já constava na Lei Orçamentária de 1895 (Lei nº 123, de 12 de agosto de 1895), por Emenda Aditiva do Deputado Goulart de Andrade. Entretanto, o pagamento foi feito[v] de três vezes, em prestações de 6:000$000.
O projeto artístico ficou a cargo do escultor italiano Lorenzo Petrucci, que fez a modelagem. Seu atellier era estabelecido na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, na capital paulista. Petrucci já era um reconhecido escultor, tendo sido autor do monumento a Anita Garibaldi, em Belo Horizonte.
Em dias de maio de 1907, sob a Administração do Intendente Dr. Guedes Nogueira, foram iniciadas as obras de remodelação da Praça dos Martírios. O jornal Gutenberg, em edição do dia 8 de maio de 1907, noticia:
Na segunda-feira, 6 do corrente, esse distinto engenheiro, acompanhado do laureado artista alagoano Rosalvo Ribeiro que, com brilhante êxito e merecidos elogios do notável crítico de arte do Jornal do Comércio – Dr. Carlos Américo dos Santos – levou a efeito a reforma do jardim de Jaraguá, esteve naquela Praça.
Depois de vários alvitres, Rosalvo Ribeiro opinou que se deve demolir a calçada da Igreja dos Martírios, a fim de prolongar-se a Rua do Sol até a Caixa d´Água, dotando-se a igreja com uma calçada artística menor, que mais contribuirá para que ela realce, e fique por completo no alinhamento da citada Rua do Sol, hoje 15 de novembro.”
E continua o conceituado jornal maceioense:
Desaparecendo a calçada desse templo – que, ao que se projeta – é um trambolho, uma monstruosidade, será facílimo fazer uma decoração sistemática e na altura de um tal melhoramento pois que com a demolição daqueles degraus e consequente reforma harmônica da escadaria, não se interromperá o que se chama em arquitetura ‘linha de composição’. Substituirão, na igreja, os que se pretende demolir, uns pequenos, artísticos e elegantes degraus em batentes lajeados, obra de estilo moderno, mais em harmonia com o conjunto de alvenaria projetada e que entrarão na composição combinada para a realização das construções ora em estudo.”
Então tinha uma Caixa d’Água na Praça dos Martírios?!
E a Rua do Sol (que por aqueles tempos se chamava 15 de Novembro e, depois, se chamou João Pessoa) não se estendia até a descida para tomar a Rua General Hermes?!
Mas essa não é a única curiosidade: também não havia a ligação da Praça com a Avenida Moreira e Silva (Ladeira dos Martírios), mas apenas aquele beco estreito que sai pelo lado esquerdo da Igreja. Somente na década de 1920[vi], durante o governo de Fernandes Lima, foi feito o alargamento e calçamento daquela que então se chamava “Ladeira de Santa Cruz”.[vii]
Mas, voltemos ao monumento. No dia 5 de junho de 1907, já estava montada a sua base, e desse dia em diante um tapume ocultava o trabalho de assentamento da estátua às vistas do público, até o dia da inauguração.
Já em 1908, quando a Intendência empreendeu melhorias na Praça, não achou conveniente erigir o monumento no centro da Praça, onde houvera sido assentada a Pedra Fundamental. Assim, em 25 de maio de 1908, o Engenheiro Eduardo Whitehurst e o Sr. Angeli determinaram a retirada da pedra e o transporte para o local definitivo. Mas, somente a 26 de maio de 1908, foi localizada a pedra.

No dia 17 de maio de 1908, encontrou-se a antiga pedra fundamental, assentada em 24 de fevereiro de 1905. Testemunharam os Srs. Dr. Guedes Nogueira, Intendente Municipal; Rosalvo Ribeiro, Goulart de Andrade; Olympio Moreira, Eduardo Whitehurst, além de outras pessoas. Ocorreu que encontraram o cofre de ferro totalmente oxidado. Aqueles exemplares de jornais foram danificados pela umidade, bem como algumas das onze moedas. Não se encontrou a Ata, nem a caneta com que fora lavrada. Os fragmentos da Pedra foram enviados ao Instituto Histórico e Arqueológico de Alagoas.
Já no dia 25 de maio de 1908, foram iniciados os serviços de fundação para assentamento da base do monumento, sob a supervisão do Sr. Angeli[viii], e no dia 4 de junho já estavam bem adiantados os serviços de remodelação da Praça, achando-se já concluídas a reforma da base da escadaria da Igreja do Senhor Bom Jesus dos Martírios[ix] e removidos os trilhos dos bondes para local mais conveniente a sua estética.

A INAUGURAÇÃO

Finalmente, no dia 11 de junho de 1908, foi solenemente inaugurado o monumento.

O jornal GUTENBERG, em sua edição do dia 13 de junho daquele ano, noticiou com riqueza de detalhes o memorável evento:

“Mais ou menos às 4 horas da tarde chegaram à Praça dos Martírios, sucessivamente, as forças federais e estaduais, sob o comando do Capitão Cabral e Major Accioly, que mandaram pôr os respectivos Regimentos em fileiras. Já então era enorme e compacta a massa de populares, avaliada em duas mil pessoas precisamente. Notamos a presença de toda a luzida oficialidade da Marinha; o Sr. Comandante da Guarnição Federal e sua briosa oficialidade; Comissões da Guarda Nacional; da Junta Sindical; da Associação Comercial; da Câmara dos Deputados; do Senado Alagoano; funcionários federais, estaduais e municipais; membros da Magistratura e dos magistérios primário e secundário; o Conselho Municipal representado pelo Sr. Dr. Demócrito Gracindo; oficiais honorários e reformados do Exército; bem como Voluntários da Pátria.
Compareceram também o Exmº Coronel José Miguel de Vasconcelos e o Ilustre Dr. Guedes Nogueira, digníssimo Intendente da Capital. Às 4 e ½ chegou o eminente Governador Dr. Euclydes V. Malta, acompanhado da Comissão do Centro Cívico, que fora a Palácio convidar S. Exª para assistir a cerimônias soleníssimas de inauguração. Ao chegar Sua Excelência ao pavilhão especialmente levantado para esse fim, as formas militares estacionadas na praça fizeram as continências de estilo de vidas ao elevado cargo do Dr. Euclydes Malta. Em pós, estas tiveram a palavra do nosso talentoso confrade Dr. Rodrigues de Mello, orador convidado pelo Centro Cívico, que pronunciou uma bela peça de complexo valor litero-filosófico, que foi mais um triunfo para o simpático jornalista conterrâneo. ”

Um irmão do homenageado, Sr. Alexandre Peixoto, também esteve presente. Nesse dia, o comércio fechou às 3 horas da tarde, atendendo a recomendação do Centro Cívico Floriano Peixoto. E, à noite, alegre retreta executada pelas bandas do 33 e da Polícia Militar. A decoração da Praça, a cargo do Sr. Alfredo Pinto, proprietário da Casa Art-Nouveau, foi digna de elogios.

E lá está ainda hoje estátua do “Marechal de Ferro”, na praça de mesmo nome, conhecida popularmente por PRAÇA DOS MARTÍRIOS.


Figura 1. Fac simile do Convite publicado no jornal Gutenberg, assinado por Joaquim Goulart de Andrade.



Figura 2. Praça dos Martírios ainda com a saída da Av. Moreira e Silva (Ladeira dos Martírios) fechada. Lá no alto, onde deveria estar a subida da ladeira, há uma casa (até bonita), que depois foi demolida. O Palácio da Intendência à direita; os bondes saindo da Rua do Comércio. A fotografia registra a inauguração da tração elétrica dos bondes da Companhia Trilhos Urbanos. Foto: Revista O Malho, Ano XIV, nº 656, Rio de Janeiro, 10 de abril de 1915, p. 42.


Figura 3. Praça dos Martírios durante a inauguração dos bondes elétricos. À esquerda, pessoas na calçada junto ao muro do Palácio. Ao fundo, também à esquerda, casarão onde hoje se situa a Caixa Econômica Federal. Foto: O Malho, Ano XIV, nº 656, Rio de Janeiro, 10 de abril de 1915.



Figura 4. A Praça em reforma e a estátua do Marechal Floriano Peixoto já instalada. Nota-se que está voltada para a frente do Palácio. Acervo:Golbery Lessa.


Figura 5. O pintor Rosalvo Ribeiro. Foto: Revista da Semana, RJ, 27 de setembro de 1903.


Figura 6. A Praça totalmente remodelada.


Figura 7. A estátua ainda na Fundição Artística Paulistana, em São Paulo. À esquerda, o escultor Lourenço Petrucci. Foto. revista O Malho, 14 de dezembro de 1907, p, 24.


Figura 8. Novamente o escultor Lourenço Petrucci posando junto à Estátua, já instalada na Praça. Foto: Revista O Malho, 2 de janeiro de 1909.


Figura 9. Ângelo Angeli, proprietário da Fundição Artística Paulistana, onde foi fundida a Estátua. Foto: Jornal Il Pasquino, 1938.


Figura 10. Estátua já instalada. Foto: O Malho, 1910.


Figura 11. A Praça dos Martírios, vendo-se em primeiro plano uma estrutura semelhante a uma caixa d'água.


Figura 12. A Praça dos Martírios, vendo-se em primeiro plano o espaço aberto pela demolição da casa, propiciando a ligação com a Av. Moreira e Silva (antiga Ladeira da Santa Cruz). Nota-se que os bondes já saiam da Rua do Sol. Foto: Alen Morrison_New York_www.novomilenio.inf.br.

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NOTA:

Caro leitor,

Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também a necessária citação de autoria e as referências citadas. Isso é correto e justo.
Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:

AMORIM, Etevaldo Alves. Maceió – Praças e monumentos (Floriano Peixoto). Maceió, Abril de 2015. Disponível em: http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.









[i] Henrique Sadok de Sá, Presidente; Hugo Jobim, Secretário; J. Goulart de Andrade; Luiz Silvério; Gabriel Jatubá; Alfredo Wucherer; Maria Dolores de Abreu Jatubá;
[ii] Assinada por: Dr. Joaquim Paulo Vieira Malta, governador; Dr. Manoel Sampaio Marques, Intendente de Maceió; Euclydes Vieira Malta, Senador Federal; Manoel de Araújo Góes, Juiz Seccional; Cândido de Almeida Botelho, Presidente do Conselho Municipal de Maceió; José Bernardo de Arroxelas Galvão, Deputado Federal; Eusébio de Andrade, Deputado Federal; Alfredo de Maya, Deputado Estadual; Jacintho de Medeiros, Senador Estadual; Octávio da R. Lemos Lessa, Secretário do Interior; Antônio Guedes Nogueira, Secretário da Fazenda; Demócrito Gracindo, lente do Lyceu; José Gomes Ribeiro, pelo jornal A Tribuna; Arroxelas Galvão, pelo jornal Evolucionista; Carlos Pontes, pelo Jornal de Debates; Goulart de Andrade, pelo Gutenberg; Josino V. de Cerqueira, pela Classe Comercial; Jacintho Medeiros Filho, pela mocidade acadêmica; Domingos Simões, pela classe artística; Manoel Anisio Jobim, pela magistratura estadual; Amaro Baptista, engenheiro dos telégrafos e Cônego Octávio Costa, este último natural de Pão de Açúcar.
[iii] GUTENBERG, Maceió, 26 de fevereiro de 1905.
[iv] Angeli Angiolo faleceu em São Paulo no dia 2 de janeiro de 1938, deixando a viúva Srª Blandina Ancelotti Angeli; os filhos: Rita, Fernando, Elvira e Olinda; e ainda os netos: Alfio, Roberto, Milton, Angelo, Gilberto, Luiz, Alcides e Fernando.
[v] Mensagem dirigida ao Congresso Alagoano pelo Bacharel Euclides Vieira Malta, Governador do Estado, por ocasião da abertura da 2ª Sessão da 10ª Legislatura, em 30 de abril de 1908, p. 16.
[vi] Mensagem do Governador José Fernandes de Barros Lima, apresentada do Legislativo em 21 de abril de 1924. Fonte: Relatórios dos Governadores dos Estados Brasileiros, p. 57.
[vii] Jornal do Recife, 31 de julho de 1920.
[viii] Gutenberg, 26 de maio de 1908.
[ix] GUTENBERG, 4 de junho de 1908.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia