quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

TEIXEIRA DA ROCHA, O CARICATURISTA DA REPÚBLICA

Por Etevaldo Amorim

Ele retratou, com traços precisos e inconfundíveis, o período de transição política do Império para a República. Na revista Vida Fluminense, da qual foi um dos fundadores, e ao lado de caricaturistas famosos como Vale[i] e Hilarião Teixeira[ii], tratados como “redatores artísticos”, ele nos legou a imagem fiel dos embates políticos que se travavam no Brasil daquela época e o retrato de muitas personalidades que fizeram a história do Brasil. A pintura, na qual se destacou em grande estilo, também era um talento revelado desde a infância. Era um desenhista nato. “Em Teixeira da Rocha, o desenho era a linha mestra sobre a qual repousava o edifício da sua pintura”.[iii]

Manoel Teixeira da Rocha. Foto: Revista da Semana, Ano XLII, nº 18, 3 de maio de 1941.
Manoel Teixeira da Rocha nasceu em São Miguel dos Campos a 15 de outubro de 1863, filho de Pedro Teixeira da Rocha e de Maria Rosa de Jesus Rocha, ambos professores naquela pequena localidade alagoana. Eram seus avós paternos major Manoel Casimiro da Rocha e Joanna Maria da Conceição Rocha.
Teixeira da Rocha faleceu no Rio de Janeiro em 18 de abril de 1941.

Ainda criança, em 1870, órfão de pai, foi com a família para o Rio de Janeiro. Lá, sob a proteção do tio, o futuro Barão de Maceió (Dr. Antônio Teixeira da Rocha, professor da Faculdade de Medicina), ingressou, em 1878, no Lyceu de Artes e Ofícios e, em 1881, na Imperial Academia de Belas Artes, onde teve aulas de Victor Meireles e José Maria de Medeiros. Sobre essa sua época de Academia, disse Escragnolle Dória, na Revista da Semana de 3 de maio de 1941: “Em todos os estabelecimentos de ensino há duas espécies de alunos: os que se matriculam por se matricular, e os que o fazem para estudar. A esta classe pertenceu sempre Teixeira da Rocha”.
Sua primeira exposição ocorreu em 1884 e, já em 1887, concorreu ao prêmio de viagem, ao lado de Oscar Pereira da Silva, Hilarião Teixeira, Pinto Bandeira e Eduardo de Sá. Nesse concurso, os cinco candidatos finalizaram empatados. Só em 1900 foi que Teixeira da Rocha viajou, a suas próprias custas, para Paris, onde estudou com Jean-Paul Laurens e Benjamin Constant. Tornou-se, como tantos outros artistas brasileiros, bolsista do Imperador D. Pedro II.
Em 1888, segundo o Diário de Belém, de 13 de julho de 1888, foi nomeado Auxiliar Interino de Desenho Topográfico e de Marinha da Escola Naval, e, em 1891, foi nomeado Professor de Desenho Linear da Companhia de Aprendizes Artífices do Arsenal de Guerra da Capital, conforme o jornal O Brasil, de16-17 de fevereiro de 1891. Nessa ocasião, dirigiu-se ao Imperador e pediu para suspender o seu auxílio. O bondoso monarca ainda o aconselhou a continuar recebendo por algum tempo, mas, ante a peremptória recusa do beneficiado, atendeu ao seu pedido.
Durante a Exposição Universal de Paris de 1889, contando 26 anos de idade, Teixeira da Rocha recebeu medalha de ouro – a distinção mais elevada recebida por um brasileiro em eventos internacionais até aquela época. No Salão de 1898, recebeu também uma medalha de ouro de terceira classe, por seu esboço “A Lei de 28 de setembro” e um grupo de paisagens.
Em 1891, casa-se com Maria Luiza de Albuquerque Palhares (Filha de Maria de Albuquerque Palhares, falecida em 1912. Fonte: O Apóstolo, 10 de abril de 1891, p. 3), com quem teve os filhos Armando, Renato (casado com Adelina Pette Ciuffo), Laura (casada com Almério Pinto de Albuquerque), Osvaldo (que se tornaria também pintor), Manoel, Odete (casada com Luiz Santos) e Hilda (casada com o Dr. Alberto Francisco Canejo). As duas eram exímias pianistas. A primeira, tornou-se professora de música, e a segunda, formada no Instituto Nacional de Música, era artista muito requisitada nos eventos da sociedade carioca de então.
Hilda Teixeira da Rocha, pianista, filha de Teixeira da Rocha. Foto: revista Careta, ano XV, nº 708, 14 de janeiro de 1922.

Durante a Exposição da Escola de Belas Artes de 1899, Teixeira da Rocha concorreu ao prêmio de viagem à Europa, mas não conseguiu por ter excedido da idade máxima permitida pelo Regulamento. Então, o Dr. João do Rego Barros ofereceu-lhe a viagem, conforme registra a Revista A Estação, Ano XXVIII, nº 24, Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1899, p. 14.
Foi assim que, afirmando uma significativa interação entre artistas brasileiros e portugueses, o caricaturista Julião Machado (Luanda, 1863 – Lisboa,1930) escreve esta carta para Rafael Bordalo Pinheiro (Lisboa, 1846 – Lisboa, 1905), recomendando Teixeira da Rocha:
“Segue neste vapor para Paris (creio que com alguma demora em Lisboa) o Teixeira da Rocha, um artista brasileiro muito consciencioso que vai ser subsidiado pelo Rego Barros. É de supor que este o procure e então melhor do que por mim saberá notícias daqui. Este tenciona demorar-se na Europa dois anos e eu espero bem, (porque sei de quanto são capazes a sua força de vontade e a sua excelente aptidão que esta viagem há de fazer deste um artista notável (...). Não ocuparia a sua atenção com o Teixeira da Rocha que o meu querido amigo aqui conheceu desta vez se este, além ser um valente carácter de homem e de amigo, não fosse um verdadeiro artista, já muito conceituado por cá. Além de tudo isto, creio que não lhe será desagradável a si, ter o ensejo de, com a sua tão generosa afabilidade, e com os seus preciosíssimos conselhos, animar um artista brasileiro que vai a Europa pela primeira vez e que – naturalmente – lutará com o tédio e talvez com o desalento. ”[i]
Conquistou a Medalha de Ouro na Exposição da Academia, com seu quadro A Horta. Esse quadro, lamentavelmente, desapareceu. Confiando-o ao uma comissão de artistas franceses que visitava o Brasil, e autorizando que eles o expusessem em Paris, nunca mais soube notícias dele. Nem mesmo quando foi, pessoalmente procura-lo na Cidade Luz.
Além da sua participação na revista Vida Fluminense, atuou também no Monóculo e na publicação especializada, fundada e dirigida por Alvarenga Fonseca, a Revista Theatral, quem tinha também como ilustradores: Bento Barbosa, Pereira Neto, Ricardo Casanova, Helios Seelinger e Julião Machado. Em 1907, publicou charges e composições satíricas na revista Tan-Tan. Sua assinatura variava entre o “Teixeira da Rocha”, “Txrª da Rocha” ou simplesmente as iniciais “T. R”.


[i] Oitocentos, Intercâmbios culturais entre Brasil e Portugal, de Arthur Valle, Camila Dazzi e Isabel Portella. 2ª edição, CEFET/RJ, 2014.

Charge de Teixeira da Rocha ilustrando o episódio da prisão e ferimento do Barão de Ladário, Ministro da Marinha do Império. Vida Fluminense, de 17 de novembro de 1889.
Capa da revista Fida Fluminense com o Dr. Cesário Alvim, Ministro do Interior, o bisavô (mineiro) de Chico Buarque de Holanda por parte de sua mãe (Maria Amélia Cesário Alvim Buarque de Holanda).

Outra capa da Vida Fluminense, de 8 de fevereiro de 1890, com o Senador Francisco Glycério (1846-19160, Ministro dos Transportes e da Agricultura de 1890 A 1891.

Teixeira da Rocha, conhecido no meio artístico por “Rochão”, numa alusão ao seu porte físico avantajado (1,90 m de altura)[i], tinha, como traço marcante do seu caráter, a independência. “Não se escondia para dizer nem para manifestar sentimentos. O que estava no coração lhe via à boca, em louvor merecido ou condenação rude. ”, disse Escragnolle Dória.
Aqui uma capa da mesma revista, de 2 de janeiro de 1890, homenageando a Imperatriz Tereza Cristina, pouco depois do seu falecimento, no Porto (Portugal), em 18/12/1889.

O alagoano Ladislau Netto, retratado por Teixeira da rocha na Vida Fluminense, Ano II, Nº 18, 18 de janeiro de 1890.
Suas obras mais conhecidas são: A Horta, Praia de Santa Luzia, Pescaria, Costura, Aula à Note, Paisagem de Petrópolis, Fundos do Arsenal de Guerra, Abolição da Escravatura e Vista de Copacabana; além de Interior de Paris e Rio Sena.
A Lavadeira.

A Carta.

A Leitura.

Cabeça de velho.

Castelânea, Petrópolis.

Chácara, 1897. Quadro de Teixeira da Rocha.

Pescaria, 1900.

Casas com riacho.

Natureza morta, Pêras.

Modelo de academia.

Minha família, 1899.

Paisagem, Paris, 1902. Quadro de Teixeira da Rocha

Retrato de um pintor brasileiro, 1886. Quadro de Teixeira da Rocha.

Sagrada missão, 1900.


Vista da Quinta da Boa Vista, 1906. Quadro de Teixeira da Rocha.





[i] Don Quixote (publicação de Ângelo Agostini), Ano V, nº 95, 23 de setembro de 1899, p. 3.

[i] Antônio Alves do Vale de Sousa Pinto, português, nasceu em 1846 e veio para o Brasil em 1859. Era paisagista, retratista, desenhista, caricaturista, litógrafo e irmão do pintor português José Júlio Sousa Pinto. Fonte: Angelo Agostini: crítica de arte, política e cultura no Brasil do Segundo Reinado (em inglês, p. 236) ROSANGELA DE JESUS SILVA.
[ii] Pintor, desenhista e caricaturista, Francisco Hilarião Teixeira da Silva, nasceu em 1860 em Santana de Pirapitinga, MG, e faleceu em Campos, RJ, em 1952. Fonte: Um Século de Pintura, de Laudelino Freire.
[iii] Tapajoz Gomes, “Artistas de Outros Tempos”, revista Ilustração Brasileira, Ano XXI, nº 99, Rio de Janeiro, julho de 1943, p. 38.

sábado, 5 de dezembro de 2015

ÚLTIMA MENSAGEM DE BRÁULIO CAVALCANTE

Valdemar de Souza Lima[i]

Há uma criatura – luminar das letras provincianas, desaparecida prematuramente, e que nunca deixou de ser uma das companheiras mudas das minhas horas de meditação: é Bráulio Cavalcante.
E, contudo, não conheci Bráulio pessoalmente, antes de mais por que ele não pertenceu à minha geração catingueira mal amanhada.
Numa tarde de verão de 1912, quando já ia longe o desmoronamento da oligarquia então reinante em Alagoas, no pátio do engenho pacato e doce como o próprio açúcar que ele produzia e onde por acaso me encontrava passando uma chuva, eis que um sujeito se pôs a contar dos trepidantes sucessos de Maceió e do assassinato, frio e covarde, do jovem e inditoso pensador conterrâneo.
O fato gravou-se fundamente na minha na minha sensibilidade e creio que dai brotaram as ligações espirituais que ainda me estreitam à memória do moço sertanejo, tão cedo desaparecido. Eu era menino, analfabeto e tímido como ninguém, mas essa circunstância só fez contribuir para que o impacto que deu causa à tragédia que o levou me marcasse mais firmemente ainda.
Anos depois, ouvi de outro indivíduo o relato do enterro de Bráulio Cavalcante. Disse-me essa testemunha ocular do lutuoso episódio que nunca experimentara comoção igual.
O féretro partira da Igreja do Livramento e toda a população da capital, num impressionante movimento de protesto e solidariedade humana, se mobilizara para conduzir ao Campo Santo aquela grande esperança da terra, ceifada quando mal despontava para a vida. Era difícil surpreender olhos enxutos. Mesmo as pessoas mais sisudas não podiam se conter.
Agora, alinhavando daqui esta crônica, vêm-me à mente, por uma natural associação de ideias, outra versão relacionada à morte do grande pão-de-açucarense e que já se acha de muito incorporada ao folclore sertanejo.
Na casa dos Cavalcante, na cidadezinha são-franciscana, pouco depois de ter sido ele cruelmente imolado no fatídico comício da Praça dos Martírios, em Maceió, a família se reunira em torno à mesa para a refeição da noite.
Ana — a “mãe-preta” de Bráulio, e que o adorava, saia nesse instante da cozinha, conduzindo um prato de arroz quando, ao cruzar o corredor que ligava os duas peças, súbito soltou um grito de pavor e caiu desmaiada.
Atraída pela inesperada ocorrência, a família precipitou-se em seu socorro. Que teria acontecido? Lançou-se mão, com a presteza que o caso exigia, do tradicional dente de alho para enchumaçar as narinas da mulher e vigorosas fricções foram aplicadas aos seus pulsos flácidos.
Quando, afinal, recuperou os sentidos, Ana partiu em pranto convulso, exclamando em altos brados:
— Mataram “meu filho”! Mataram “meu filho”!
Os circunstantes fixaram-na atônitos, ao passo que a negra entrava em explicação:
— Vi “meu filho” quando se dirigia para a cozinha, ao meu encontro; tinha os cabelos em desalinho e trazia uma enorme mancha de sangue em cima do peito. Ana! Eu já morri, disse-me tristemente. Eu já “morri”!
Ainda não se tinha de todo dissipado a atmosfera de mal-estar motivada pela lúgubre visão da “mãe-preta”, quando o estafeta do Correio local bateu na porta, emocionado, trazendo preso entre os dedos trêmulos o despacho fatídico e que era, sem mais nem menos, a confirmação da tragédia momentos antes, a uma alma simples, misteriosamente revelada.
Bráulio Cavalcante, poeta e tribuno, mocidade vitoriosa e orgulho da sua gente, tinha sido riscado do mundo dos vivos.
________________
Publicada no Jornal de Alagoas, 14 de novembro de 1954. Agradecimentos ao pesquisador Davi Roberto Bandeira da Silva pela cessão do texto original.
Bráulio Cavalcante em sua formatura na Faculdade de Direito do Recife em 1911. 
Acerco de Homero Cavalcante, seu sobrinho-neto.

Funeral de Bráulio Cavalcante. Fonte: revista O Malho, 6 de abril de 1912.

Multidão acompanha o enterro de Bráulio Cavalcante.




[i] Valdemar de Souza Lima, tabelião, funcionário público, jornalista, nasceu no pequeno povoado de Salomé (então pertencente ao município de Igreja Nova), hoje município de São Sebastião, cidade localizada na parte sul do Estado de Alagoas, no dia 20 de fevereiro de 1902, como filho de José Virgílio de Souza Lima, pequeno comerciante, agricultor e criador de semoventes, e de Josefa Leite de Souza Lima, professora pública estadual. Faleceu em Brasília 17 de julho de 1987, onde passou a residir a partir de 1967. Colaborou em periódicos. Pertenceu. À Associação Nacional de Escritores e é Patrono da Cadeira Nº 12 da Academia Palmeirense de Letras, ciências e Artes. Bibl.: Graciliano Ramos em Palmeiras dos Índios, 1971; O cangaceiro Lampião e o IV mandamento, 1979. Faleceu em 12 de agosto de 1986.Fonte: ACADEMIA PALMEIRENSE DE LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES e ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS ESCRITORES.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

HELENA TAVEIROS, MISS ALAGOAS 1929.

Por Etevaldo Amorim
Enquanto as nações europeias estavam em ruinas e tentavam se recuperar dos drásticos efeitos da Primeira Grande Guerra (1914-1918), os Estados Unidos experimentavam uma fase de grande prosperidade com a produção e exportação de farta quantidade de bens de consumo, dominando mercados em todo o mundo. E foi exatamente essa superprodução que, aliada à alta especulação na bolsa, levaram ao acontecimento conhecido por “Crash de 1929” ou “Quebra da bolsa de Nova York”. Por isso, o dia 29 de outubro daquele ano ficou conhecido como “quinta-feira negra”.
Mas, no início daquele ano, a sociedade americana não tinha ainda sinais do que viria a acontecer e apenas desfrutava da fartura e dos prazeres das noites, em boates e clubes e nos cinemas, que se tornara uma grande diversão. Eram os chamados “loucos anos 20”.
Uma dessas badalações era o Concurso Internacional de Beleza de Galveston, no Texas, região da Costa do Golfo. No Brasil, o jornal carioca A Noite promoveu o Concurso Miss Brasil, cuja vencedora seria eleita representante brasileira no Concurso daquela cidade americana. Os Estados, então, enviariam suas representantes ao Rio de Janeiro, então Capital Federal.
Foi assim que, em março de 1929, um concurso promovido pelo Jornal de Alagoas movimentou a sociedade alagoana e, em especial, a de Maceió. No dia 20, perante vultosa assistência, o Júri se reuniu na Academia do Comércio[i] para a eleição da mais bela alagoana daquele ano.
Composto por Barreto Cardoso, Guedes de Miranda, Jayme d’Altavila, Lourenço Peixoto, Lima Junior, Carlos Garrido e Jorge de Lima, nomes da mais alta respeitabilidade, o Júri elegeu em 1º lugar a Srtª Helena de Miranda Taveiros; em 2º lugar, a Srtª Totola Paes e, em 3º, Luzia Pinto.


Helena Taveiros. Foto: O Malho, Ano XXVIII, nº 1.388, RJ, 20 de abril de 1929, p. 35.

Nascida de uma tradicional família alagoana, Helena de Miranda Taveiros era filha do comerciante Avelino de Alcântara Taveiros e de D. Maria Amélia de Miranda Taveiros (filha do Cel. Manoel Joaquim de Miranda). Seu avô paterno era o Cel. Galdino de Alcântara Taveiros, que foi Deputado Provincial nas legislaturas 1899-1900; 1901-1902; 1903-1904; e 1905-1906; e Secretário da Fazenda no Governo do Barão de Traipu, em 1895. Sua avó paterna, Philomena de Albuquerque Taveiros, era filha do advogado Francisco Remígio de Albuquerque e de D. Leonor Rosaura de Albuquerque, e tia do jornalista Carlos Araújo e do farmacêutico e poeta Cypriano Jucá.


O Cel . Galdino de Alcântara Taveiros. Foto: O Malho, Ano VI, nº 274, RJ, 14 de dezembro de 1907, p. 32.


Avelino de Alcântara Taveiros (pai de Helena) e seu irmão Rutílio de Alcântara Taveiros. Foto. O Malho, Ano VI, nº 236, RJ, 23 de março de 1907, p. 25.

Consagrada como “a mais bela mulher alagoana”, Helena Taveiros estava habilitada a representar o Estado no Concurso Miss Brasil, patrocinado, como já dissemos, pelo jornal A Noite, no Rio de Janeiro, como parte do Concurso Internacional de Beleza de Galveston, Texas, Estados Unidos. Nessa condição, seguiu de trem para o Recife no dia 24 de março, acompanhada pelo seu irmão de Hermes de Miranda Taveiros, onde hospedaram-se no Hotel Central no aguardo da data para o embarque. [i]
No dia seguinte, 25 de março, um grupo de alagoanos ofereceu um jantar à miss no famoso Restaurante Leite, no Recife. O Sr. Leopoldo Rocha, em nome do “Club Rio Negro”, ofereceu-lhe um lindo presente;
Na Capital Federal, toda a colônia alagoana aguardava a chegada da sua miss. Tanto que, a 28 de março, o Cel. Amilcar Nelson Machado, Presidente do Centro Alagoano, recebe o seguinte telegrama do deputado alagoano Luiz Silveira:

“Bordo ‘Arlanza” seguiu senhorita Helena Taveiros proclamada Miss Alagoas. Cordiais saudações”

Embarcou para o Rio de Janeiro a bordo do vapor Arlanza, em companhia do seu irmão Hermes de Miranda Taveiros e da Miss Pernambuco, Srtª Connie Braz da Cunha[ii]. No Rio, as misses ficaram hospedadas no hotel Itajubá, na Cinelândia.
No dia 8 de abril, as 15 Misses[iii] compareceram ao Teatro Lírico, quando lhes foi oferecido um espetáculo de gala com a apresentação da ópera O Guarani, de Carlos Gomes.


8 de abril. O Teatro Lírico lotado para a apresentação das misses. Fonte: A Noite, 9 de abril de 1929.

As candidatas eram, literalmente, decantadas em prosa e verso. A poetisa Luiza Ruas, que também era modista e professora de música no Rio de Janeiro, dedicou esses versos à representante alagoana:
 “Vejo-te altiva, altaneira, convencida de tua missão
Bandeirante da beleza da linda Pátria alagoana
Sinto toda essa beleza ao beijar a tua mão
Como um fluido sereno que do teu ser emana.

Em teu vestido branco com longos fios de prata
Faze lembrar a mais linda cascata
Que maravilha e assombra com as belas cachoeiras,
A Europa, o Novo Mundo e essas terras brasileiras.

És a Uyara misteriosa dessas grutas tenebrosas
Dos pélagos profundos e das montanhas alterosas
De suas quedas d’água, emblema de força e poder,
Deste majestoso país que nos viu nascer.

Em teus braços vivo Brasil e teu manto constelado
Onde o Cruzeiro do Sul nele está assinalado
De belezas incomparáveis, mostrando ao mundo inteiro
O valor, a nobreza do povo brasileiro.

Recebe, pois, ‘Miss Alagoas’, meus sinceros cumprimentos
Pelas excelsas virtudes, pelos nobres sentimentos
Que revelas em tua fina educação
E pela magnitude do teu belo coração. ”

Enquanto Olegário Mariano saudava a representante de Pernambuco, o poeta alagoano Goulart de Andrade oferecia esses versos:

“A Pátria que deu à História
Os marechais da vitória republicana,
Ao prélio da formosura
Manda a beleza mais pura
Para a vitória alagoana.

Vibrem por toda a imensidade,
Não as canções que a guerra inspira,
Mas o louvor da Gran Beldade!

Desfira,
Na argêntea lira
Um canto real. ”

Do mesmo modo, no Jornal das Moças, edição de 2 de maio, uma poesia de Manoel Gregório saudava a nossa miss:

Embaixatriz da graça e da beleza
Da terra dos ilustres Marechais,
Tens um porte fidalgo de princesa,
Tens o encanto gentil dos madrigais!

Teu coração, tão cheio de nobreza,
Teu riso de meiguices magistrais
E teus modos de tanta gentileza
São atrativos que não têm rivais!

Oh! Minha conterrânea ilustre e altiva,
Tu és da nossa terra a flor mais viva,
A perfumar, sorrindo, os nossos lares...

A vitória de tua formosura
Fez-te a Rainha, cheia de candura,
Da hospitaleira terra de Palmares! ...

A prova final para a escolha da Miss Brasil estava marcada para o dia 14 de abril. Porém, o mau tempo fez com que fosse remarcado para o dia 16. O desfile aconteceu no estádio do Fluminense Futebol Clube, que ficou totalmente tomado pelo público, fazendo com que o desfile fosse feito no Salão Nobre, apenas para o Júri.


Membros do júri: Em cima: os pintores Rodolpho Chamberland e Rodolpho Amoedo; Raul Leitão da Cunha, professor de anatomia da Faculdade de Medicina. Em baixo: Escritor Coelho Neto, presidente do Júri; Paulo Filho, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa; Escultor Honório Cunha.


Aspecto do Estádio do Fluminense, comportando verdadeira multidão para assistir ao desfile.



Outro aspecto do estádio do Fluminense na final do Concurso. Fonte: revista Fon-fon, Ano XXIII, Nº 17, 27 de abril de 1929, p. 42.


As misses reunidas no Salão Nobre do Fluminense Futebol Clube logo após o desfile perante a Comissão Julgadora. Helena Taveiros é a terceira da esquerda para a direita. Foto: Revista Careta, Ano XXII, Nº 1.087, 20 de abril de 1929, p. 16.

Todas as misses cumpriam intensa programação social: visita a corporações militares, hospitais, escolas, recitais, jantares, etc. E o comércio faturava com presentes os mais diversos, o que era recompensado com generosos anúncios nos jornais e nas revistas.
Helena Taveiros recebeu de membros da colônia alagoana um “mimo”: uma medalha de madrepérola com o busto de Santa Terezinha do Menino Jesus, em rica moldura de platina e brilhante, com cordão do mesmo metal, adquirida na joalheria M. L. Krause e Cia, que foi entregue à miss pelos drs. Frederico Souto, Clementino do Monte, Antônio B. Passos e Povina Cavalcanti. (Diário Carioca, 5 de maio de 1929.)

Helena Taveiros na ocasião em que era homenageada por membros da colônia alagoana na Capital Federal. O quarto e o quinto, da esquerda para a direita, são o Deputado penedense Clementino do Monte e Hermes Taveiros.

Vistas da fachada e do interior da joalheria M. L. Krause & Cia., vendo-seao centro o seu proprietário, Sr.  Max Lewin Krause. Foto: revista Vida Doméstica, ano V, nº 82, novembro de 1926, p. 14.

A Medalha com que Helena Taveiros foi presenteada pela colônia alagoana.


Outro presente lhe foi oferecido pela firma S. R. Soares, estabelecida com confecção de meias na rua Theodoro da Silva, 180-A: uma dúzia de pares de meias finíssimas, marca “Parisette”, de seu fabrico. (A Noite, 13 de abril de 1929) Também a Casa Pereira de Souza (Rua Gonçalves Dias, 4), lhe ofereceu um lindo chapéu de passeio.
No dia 20 de abril, esteve no Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (O Jornal, 21 de abril de 1929), na Praça da República, em visita a um parente seu que fazia parte da Corporação, o bombeiro Petrônio Correia Gil. Chegando no automóvel do Comandante Maximino Barreto, foi recebida por uma comissão de oficiais composta pelo capitão Athanázio Gomes Vieira e pelos tenentes Hermillo Costa e Silva e Oscar Pires Velloso, sendo saudada pelo Oficial do Dia, Cap. Alexandre Loureiro Júnior.


Helena Taveiros em visita do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal em companhia do seu irmão Hermes Taveiros, penúltimo à esquerda. A seu lado, o Cel. Maximino Barreto, comandante daquela corporação. Revista O Clarão, maio de 1929, p. 27.


No Corpo de Bombeiros, Helena Taveiros ao lado de sua tia e, em pé, o seu primo bombeiro Petrônio Correia Gil, seu irmão Hermes Taveiros e o Tenente Hermillo. Foto: revista O Clarão, junho de 1929, p. 27.


Algumas misses em visita à Escola Nacional de Belas Artes. A partir da esquerda: miss Paraíba, miss Alagoas, miss Pernambuco, miss São Paulo e miss Espírito Santo. Fonte: O Malho, 20 de abril de 1929.



Algumas misses em visita à Escola Nacional de Belas Artes. A partir da esquerda: miss Paraíba, miss Alagoas, miss Pernambuco, miss São Paulo e miss Espírito Santo. Fonte: Revista Careta, Ano XXII, Nº 1.087, 20 de abril de 1929, p. 35.

No dia 23 de abril, visitou o contratorpedeiro Alagoas (A Manhã, 24 de abril de 1929), acompanhada de pessoas de sua família e do Capitão-Tenente Carlos Oscar Guimarães, sendo recepcionada pelo seu comandante, Capitão de Corveta João Bittencourt Calazans e pelo Imediato, Cap. Tenente Eugênio da Costa Mattos. Na ocasião, o comandante mostrou à miss a velha bandeira que a sociedade alagoana lhe oferecera há mais de vinte anos. Um ano depois, Helena presentearia o navio com uma bandeira nova, de bela confecção de costureiras alagoanas.
O comandante proferiu um longo e comovente discurso, que foi respondido pelo Sr. Hermes Taveiros. Em seguida o sargento Henrique Olsen presenteou a Miss com uma fotografia do Alagoas, encaixada em bela moldura. (A Manhã, 24 de abril de 1929).
Enquanto esteve no Rio de Janeiro, a miss Alagoas recebeu uma carta do sentenciado Benedito Carneiro. Dizendo-se tuberculoso, pedia algumas coisas de que precisava: uma colcha, um lençol, um colchão de palha e uma camisa de meia. Helena foi, então, até a Casa de Detenção para atender ao pedido, sendo recebida pelo Coronel Meira Lima, Diretor daquela Instituição. (Gazeta de Notícias, RJ, 4 de maio de 1929, p. 2.)
Antes de deixar o Rio de Janeiro, visitou a redação de A Note, ocasião em que deixou impressões sobre a sua participação no Concurso:
“Ainda me encontro sob a impressão de deslumbramento, que desde a minha chegada a esta Capital toda me domina, e me guia os passos e me inspira as palavras. O concurso de beleza, que poderia sido, sem dúvida, uma simples parada de vaidade, uma grande festa de caráter fútil, o povo brasileiro o transformou em uma formidável demonstração de civismo. Sentiu-o durante todo o desenrolar da campanha e disso estou, no momento, convencida. O carinho, o entusiasmo, a exuberância da alma que nos cercaram, dia a dia, desde o primeiro até o instante em que parto, são disso a melhor prova. E nós outras, investidas das representações, que poderíamos ter considerado o caso como um pretexto de entretenimento, sentimos todas que a representação nos trouxe, ao contrário, responsabilidades seríssimas perante nossos Estados e o Brasil, responsabilidades que continuam. Eu, por mim, desejaria, até não sei quando, viver imaterialmente uma vida de beleza, uma vida de símbolo...”
Perguntada se partia saudosa, Helena respondeu:
“Mas, de certo! Eu padeço a nostalgia da minha terra. Não só do meu Estado, mas também, e principalmente, do meu recanto natal, da cidade que me viu nasceu e me assiste. Aqui, igualmente, sinto essa nostalgia a me doer no espírito, a me solicitar, a me acenar, de longe. Entretanto, o fulgor desses dias de alegria, de cordialidade e, por que não dizer, de glória, cercada do aplauso do povo, sinto-o em mim como uma fascinação irresistível. Eu, que receara desmerecer-me, sinto-me engrandecida pela nobreza e pelo resplendor do torneio. E, repare, eu que sobro no momento a nostalgia da minha terra, tenho a certeza de que partirei para a minha terra com as lágrimas nos olhos e o choro no coração”.
E, de fato, diz o jornal, Helena Taveiros “Miss Alagoas” partiu chorando do Rio.
Cumprida a sua missão, a 10 de maio, Helena embarcou de regresso a Maceió pelo vapor Pará, do Lloyd Brasileiro, em companhia da Miss Piaui, Antônia de Arêa-Leão, que depois seguiria para seu Estado.


Embarque de Helena Taveiros no porto do Rio de Janeiro. Foto: A Noite, 10 de maio de 1929.



Embarque de Helena Taveiros no porto do Rio de Janeiro. Foto: Revista Careta, Ano XXII, Nº 1.087, 20 de abril de 1929, p. 16.

Misses Rio de Janeiro, Alagoas e Pernambuco. Foto: Revista Careta, 6 de abril de 1929, p. 13.


A No dia 13, tocando o “Pará”, do Lloyd Brasileiro, o porto de Salvador, as duas misses desceram para um breve passeio. À tarde, as colônias de Alagoas e Piauí, sediadas na Bahia, ofereceram um chá dançante a bordo.
No dia 14 de maio, por volta das 15:00 horas, Helena desembarcava em Maceió, sendo recebida por cerca de duas mil pessoas. Depois de ser saudada pelo estudante Carlos Duarte, tomou lugar na limousine do Governo do Estado, onde estada o governador Álvaro Paes que, em companhia de sua irmã Mariazinha Paes, a levou para a sua residência, onde foi festivamente recepcionada. Também a bordo do Pará, veio a miss Piauí, Srtª Antônia Arêa-Leão, que também se dirigiu à residência do governador no luxuoso Pockard da Prefeitura, oferecido pelo Prefeito em Exercício, Dr. José Carneiro.
Um extenso cortejo de automóveis e bondes se formou no trajeto entre o porto e a casa da miss. Ali, então, foi novamente saudada pelo estudante Raul Lima que, em nome dos que a receberem, lhe ofereceu “um caro anel de platina e brilhantes” e “um rico relógio-pulseira de platina e ouro”, diz o jornal pernambucano A Província, acrescentando ainda:
Miss Alagoas será ainda homenageada com um baile na sede dos ‘Alliados’ e outro na sede do C. R. B, um five-o-clock no Café Continental e uma consagração artística no cinema Capitólio”. De fato, o Club dos Alliados ofereceu um ‘Café Paulista’, com a presença do Governador Álvaro Paes, ocasião em que foi saudada pelo orador do Club, Sr. Lauro Jorge.”
Segundo José Franklin Casado de Lima, em “Maceió, década de 20”, Helena Taveiros teria participado do filme “Casamento é negócio? ”, produzido pela Gaudio Filmes e financiado pela Companhia Petróleo Nacional, com direção, argumento e fotografia de Guilherme Rogato. Trata-se de um curta metragem com locação na Praça Deodoro, Sítio Leopoldis, Praça D. Pedro II e lagoa Manguaba, um dos primeiros filmes feitos em Alagoas. Entretanto, o site da Cinemataca Brasileira (cinemateca.gov.br), não traz no Elenco o nome de Helena Taveiros, mas de Morena Mendonça, que, aliás, é o nome da personagem principal. O filme, ainda disponível na internet, mas em péssimo estado, traz ainda no cast: Bonifácio da Silveira (o major Bonifácio), Luis Girard, Moacir Miranda, Josefa Cruz, Agnelo Fragoso, Orlando Vieira, Armando Montenegro, Antônio Portugal Ramalho e Claudio Jucá. (Fonte: http://www.brasilbrasileiro.pro.br/jfranklin.pdf).

***  ***  ***
A grande vencedora do concurso foi a Miss Distrito Federal (miss Botafogo), Srtª Olga Bergamini de Sá[i], que foi a Galveston representando o Brasil. A Miss Universo foi a representante da Áustria, Srtª Lisl Goldarbeiter. Mas essa já é uma outra história.


Miss Brasil, Olga Bergamini de Sá, ao lado do Embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sr. Sylvio Gurgel do Amaral. Fonte: Museu Histórico Nacional.


Miss Áustria, Srtª Lisl Goldarbeiter (Viena, 23/03/1909, Budapest, 14/12/1997), eleita Miss Universo 1929.






[i] Olga Bergamini de Sá, filha do comerciante português Francisco Marques Ferreira de Sá (que se suicidou em 29 de julho de 1931) e da italiana Luiza Bergamini de Sá e sobrinha do Deputado Adolfo Bergamini. Casou-se, em 1935, com o Dr. Danilo Bracet. Nasceu no dia 8 de maio de 1911 na vila Martins Mota, Rua do Catete, nº 92, casa XXII, Rio de Janeiro.











[i] Diário de Pernambuco, 26 de março de 1929.
[ii] Constance Braz da Cunha (1911-1997), representante da Associação Pernambucana de Atletismo, filha de uma inglesa rica. Ficou hospedada no Copacabana Palace.
[iii] Edna Frazão Ribeiro, Amazonas; Elza Bezerra, Pará; Maria Nazareth Silveira, Ceará; Connie Braz da Cunha, Pernambuco; Helena Taveiros, Alagoas; Marieta Reivas, Rio de Janeiro; Olga Bergamini de Sá, Distrito Federal; Didi Caillet, Paraná; Bia Ortiz, Rio Grande do Sul; Nelly Menezes, Sergipe; Nair Pedreira de Freitas, Bahia; Jesuina Pimentel Marinho, Minas Gerais; Yvone de Freitas, São Paulo; Glycia Serrano, Espírito Santos; Eimar Pinto Pessoa, Paraiba; Zulma da Costa Freyerleben, Santa Catarina; Marietta Relvas, Estado do Rio de Janeiro; Maria de Lourdes Pantoja, Maranhão; Hilda Netto, Paraíba; 






[i] Instituição de ensino mantida pela Sociedade Perseverança e Auxílio dos Empregados do Comércio.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia