terça-feira, 14 de setembro de 2010

A POESIA DE MÁRIO BENEDETTI



GENTE QUE EU GOSTO

Em primeiro lugar,
Gosto de gente que vibra, que não tem que ser empurrada,
Que não precisa que lhe diga que faça as coisas
Porque sabe o que tem de fazer
E que o faz em menos tempo do que o esperado.
Gosto de gente capaz de medir as conseqüências de seus atos,
Gente que não deixa as soluções ao acaso.
Gosto de gente rigorosa com seu povo e consigo mesma,
Mas que não perca de vista que somos humanos e que podemos errar.
Gosto de gente que pensa que o trabalho em equipe, entre amigos,
Produz mais que os caóticos esforços individuais.
Gosto de gente que sabe a importância da alegria.
Gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos serenos e razoáveis.
Gosto de gente criteriosa, que não se envergonha de reconhecer que não sabe algo e que se equivocou.
Gosto de gente que, ao reconhecer seus erros, se esforça verdadeiramente em não voltar a cometê-los.
Gosto de gente capaz de me criticar construtivamente e de frente; a estes eu chamo de amigos.
Gosto de gente fiel e persistente, que não sucumbe quando se trata de alcançar objetivos e idéias.
Gosto de gente que trabalha por resultados.
Com pessoas assim, me comprometo a qualquer coisa, já que tê-las ao meu lado é por demais gratificante.

Mario Benedetti (Tradução: Etevaldo Amorim)

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PASSATEMPO

Quando éramos crianças,
os adultos andavam pelos trinta;
uma poça era um oceano -
a morte não existia.

quando rapazes,
os velhos eram gente de quarenta;
um charco era um oceano -
a morte somente uma palavra.

já quando nos casamos,
os anciãos estavam nos cinqüenta;
um lago era um oceano - a morte era a morte
dos outros.

agora veteranos,
já alcançamos a verdade;
o oceano é por fim o oceano -
mas a morte começa a ser
a nossa.
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Mario Benedetti (Paso de los Toros, 14 de setembro de 1920 — Montevidéu, 17 de maio de 2009) foi um poeta, escritor e ensaísta uruguaio. Integrante da Geração de 45, à qual pertencem também Idea Vilariño e Juan Carlos Onetti, entre outros. Considerado um dos principais autores uruguaios, ele iniciou a carreira literária em 1949 e ficou famoso em 1956, ao publicar "Poemas de Oficina", uma de suas obras mais conhecidas. Benedetti escreveu mais de 80 livros de poesia, romances, contos e ensaios, assim como roteiros para cinema.
Fonte: Wikipedia (Tradução de Sidney Wanderley)
Obtido no Blog do Majella (http://majellablog.blogspot.com/)

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia