sábado, 23 de março de 2024

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O BRAVO SARGENTO WALDEMAR GOES

 

Por Etevaldo Amorim


O Capitão Waldemar Goes. Foto: Revista Alagoas
Maceió, Quinta-feira, 4 de agosto de 1938. O correspondente do jornal Diário da Manhã, do Recife, entrevistava o Interventor Osman Loureiro e o Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão, então Comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar de Alagoas, sediado em Santana do Ipanema. O assunto dominante era, por óbvio, a morte de Virgulino Ferreira da Silva – “Lampião” e seu bando, na Grota do Angico, município de Porto da Folha (atualmente pertence ao território de Poço Redondo), Estado de Sergipe.


Os créditos pelo exitoso ataque a Angicos eram dados aos comandantes da operação: o próprio Lucena, o tenente João Bezerra, o aspirante Ferreira e o sargento Aniceto Rodrigues. Pouco se falava, por exemplo, da morte do soldado Adrião Pedro de Souza, única baixa da Força Pública na Missão na grota do riacho Angico.


Até aquele desfecho, na fria madrugada do dia 28 de julho de 1938, muitos embates aconteceram entre cangaceiros e volantes, que têm sido objeto de estudo de grande número de pesquisadores, constituindo-se numa bibliografia das mais vastas, e assunto aparentemente inesgotável. Um desses embates envolveu o personagem desta nossa história: o sargento Waldemar da Silva Goes.


O jornalista quis saber do coronel Lucena sobre o ato de bravura que inspirou a promoção do sargento alagoano no dia anterior (3 de agosto). Fora ele promovido a Aspirante, juntamente com o Sargento João Bezerra, a Capitão; o 2º Tenente Ferreira, a 1º Tenente; o sargento Aniceto Rodrigues, a Aspirante. O Tenente Coronel Lucena, promovido a Coronel. O relato do Coronel e as notícias coligidas de diversos outros jornais da época nos possibilita reconstituir um pouco da história desse bravo militar.


***   ***   ***

O Sgt. Waldemar. Foto Roberto Plech

O sargento Waldemar encontrava-se em Batalha, para onde fora destacado “a bem de sua saúde”. Estava bem, e tudo corria conforme planejado. Ademais, estava a 37 km do rio São Francisco, perto de suas origens: a Vila Limoeiro, pertencente ao município de Pão de Açúcar, mas próxima de Belo Monte. Ali vivera na sua infância em casa de seu pai, o sergipano José Sotero de Goes[i]; e de sua mãe, dona Silvina da Silva Maia,[ii] junto a seus irmãos: Antônio, João, Marieta, Angelina e Ana (Doninha).


Embora sob a patente ameaça dos cangaceiros, o ambiente era de tranquilidade naquela segunda-feira, 18 de abril de 1938. Estava ele em sua casa quando chega um cavaleiro. Ofegante, lhe contou que o povoado Capivara havia sido atacado por um grupo de cangaceiros. A cinco léguas dali, atravessando de Sergipe para Alagoas, Lampião e mais 16 comparsas alcançam aquela localidade, no município de Traipu.


Sem saber que se tratava de Lampião, para lá se dirigiu o sargento Goes, acompanhado de dois soldados e nove civis que se dispuseram. Quando lá chegaram, os bandidos já haviam saído. Só então tomou conhecimento que se tratava do famigerado “rei” do Cangaço. Precisavam seguir no encalço dos cangaceiros. Antes, porém, o sargento Waldemar se dirigiu aos civis que o acompanhavam:


- Bem, meus senhores! Tratem de regressar. São pais de família, vivis e, portanto, não têm obrigação de me acompanhar. Deixem-me, que sou soldado, cumprindo-me lutar até morrer, nunca recuar.” Parte dos combatentes civis ainda o acompanharam até o povoado Girau, a 12 léguas de Capirava, onde encontraram os bandoleiros, quando, afinal, desistiram.


Durante o saque a Girau, Lampião resolveu fazer filantropia. Fazer caridade com o chapéu alheio, diria melhor. Entrou na loja do Sr. Eloy Maurício e distribuiu todo o sortimento de tecidos aos moradores, causando-lhe enorme prejuízo.


Outro comerciante, o Sr. Odilon Lima, tentou fazer com ele uma “camaradagem de emergência”. Mas Lampião cuidou logo impor a sua “autoridade”:


- Saiba que está falando com o Cap. Virgulino Ferreira!!!


Odilon distribuiu bebida a todo o bando, preferindo Lampião tomar vinho quinado.


Nesse ínterim, diz o correspondente do Diário da Manhã:


Lampião estava a saquear quando o atacou o sargento Waldemar, com apenas dois soldados, um dos quais logo saía de combate. Sustentou fogo como um herói – 2 contra 17 – e, quando já ferido no antebraço esquerdo e no tórax, ficara imobilizado. Lampião, por sua vez, na suposição de que enfrentava uma força considerável, abandonava Girau, deixando a sua cavalaria, que o sargento afoitamente engarrafara...”


Na prática, isso significa que o sargento apreendera os cavalos do bando, impondo assim um sério revés aos bandoleiros. Isso tudo se passava na entrada do lugarejo. Rastejando em meio à vegetação, os agentes da lei conseguiram ultrapassar as montarias dos bandidos, que eram em número de dezoito, e se colocaram atrás de um casebre, a uns 40 metros da casa onde se encontravam Lampião e seu bando.


Na tentativa de reaver os seus animais, por três vezes Lampião mandou mensageiros ao sargento, dando ordem para que os soltasse. O bravo militar respondia de pronto:


- Se Lampião quiser seus cavalos, que venha buscá-los, e que qualquer um que se aproximar, cairá por cima deles cravado de balas.


E a troca de tiros continua. Waldemar, temendo ser apanhado vivo, decide ir de encontro à casa onde se entrincheiravam os bandidos. Saiu rastejando e logo divisou uma figura na janela; dormiu na pontaria e, quando disparou sua arma, sentiu que havia sido baleado, pois o bandido também atirara contra ele.


A bala varou o seu braço esquerdo, penetrando o estômago, na região epigástrica, alojando-se entre o pulmão e o fígado, onde permaneceu até o fim dos seus dias. Soube-se depois que o bandido que o atingiu também foi baleado e faleceu logo em seguida. Foi sepultado em uma fazenda próxima, sob sigilo, pois Lampião não gostava que soubessem da perda de um dos seus para os “macacos”.


A pequena tropa do sargento Waldemar Goes entrou no povoado, onde Lampião e seu bando permaneceram por cerca de três horas, e tomou conta da situação. Mesmo ferido, o militar, montado em seu cavalo e sangrando muito, retornou a Batalha, onde só veio receber os primeiros curativos 22 horas depois de todo o ocorrido.


Depois de razoavelmente refeito, conduziu até Santana do Ipanema os cavalos tomados de Virgulino, que não poderia saber, mas teria participado da sua ultima batalha em território alagoano.[iii]


Já o historiador santanense Clerisvaldo Chagas, em “Os dois últimos combates e a última viagem de Lampião[iv], descreve assim a contenda:


“O tiroteio começou feroz e desordenado. Os bandidos talvez pensassem que estavam sendo atacados por grande número de atacantes. Waldemar rastejava em direção de uma casa onde supunha está o grosso do bando. O sargento foi ferido no terço médio do braço direito. A bala transfixou o braço alojando-se na região umbilical, mas sem atingir órgão vital”. O sargento passou a atirar com o outro braço cada vez mais animando os seus soldados. Um deles caiu ferido e o sargento recuou ao ponto de partida. “Restavam dois homens atirando. Um já ferido outro prostrado ao chão, esvaindo-se em sangue. O sargento brigava como um leão. Os bandidos foram amortecendo o fogo e fugiram”.


Outra notícia, publicada no Jornal Pequeno, Recife-PE, de 21 de abril de 1938, desta feita do próprio Comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Lucena, diz muito do que foi esse confronto, protagonizado pelo nosso bravo conterrâneo:


Maceió, 21. Ao Cel. Comandante Theodureto Camargo, do Regimento Policial Militar, o Tenente-Coronel Lucena dirigiu às 9,30 h de ontem, de Santana do Ipanema, o seguinte despacho:


“Lampião com 16 bandidos atravessou para este Estado no Saco do Medeiros[v] ao anoitecer do dia 17, conforme comuniquei ao Sr. Secretário[vi]. Logo que tive aviso, fiz seguir uma volante de Pão de Açúcar, pela margem e uma daqui, via Batalha, e outra comandada pelo Aspirante Porfírio, via Arapiraca, esta noite.


O referido grupo, ao amanhecer de ontem, atacou o povoado Capirava, no município de Traipu, que dista do ponto que saltaram quatro léguas. Capivara, logo após o ataque, avisou Batalha, onde está destacado o sargento Waldemar com mais duas praças. Esse sargento, reunindo onde civis, seguiu imediatamente a cavalo para ali, tendo atacado os bandidos nas imediações de Girau, onde, em campo raso, travarem tiroteio, tendo por fim o grupo fugido, ficando o sargento e um soldado gravemente feridos, desaparecendo alguns dos que o acompanhavam. O referido sargento ficou no campo de luta combatendo com civis e praças até a fuga do grupo.

Um prisioneiro de Lampião, que escapou, viu o bandido bastante ensanguentado e um cabra ferido conduzindo outros, são sabendo, entretanto, se Lampião estava ferido. O grupo de bandidos andava montado e nossas forças estão na batida do mesmo. Fiz seguir o médico com o capitão Rodrigues e força até Batalha em socorro dos feridos. Estou com muita fé em um novo encontro.


Peço mandar urgente para Palmeira os cinco cunhetes de munição, conforme combinamos aí, pois esqueci-me de trazê-los e hoje tive dificuldades em fazer seguir a força para Batalha com a falta de munição e já tenho algumas volantes pouco municiadas. Peço mostrar este ao Sr. Secretário. O sargento Waldemar deu um grande exemplo, digno de louvores, serve para os demais companheiros. Saudações respeitosas. J. Lucena, Tenente-Coronel Comandante.”


***   ***   ***

Naquele mesmo dia (4 de agosto de 1938), o Interventor assinava Ato que nomeava o Aspirante Waldemar como Delegado em Arapiraca[vii]:


Por Ato de 4 de agosto de 1938, o Interventor Federal (Osman Loureiro), exonerou o 2º Tenente do Regimento Policial Militar, Antônio Ferreira de Oliveira, do cargo de Delegado de Polícia, em comissão, do município de Arapiraca, nomeando para substituí-o o Aspirante a Oficial do mesmo Regimento, WALDEMAR DA SILVA GOES.[viii]


Já como 1º Tenente, foi o 3° Comandante do Corpo de Bombeiros de Alagoas, no período de 09/09/48 a 19/02/49.[ix]


Anos depois, já investido na patente de Capitão, foi Assistente Militar do Governador Arnon de Melo. Nessa época, sofreu outro revés: um grave acidente, conforme descrito em notícia do correspondente do Diário de Pernambuco, Arnoldo Jambo, na edição de 28 de novembro de 1954:


 Dois jeeps do Estado colidiram violentamente à altura do lugarejo denominado Chã do Pilar, resultando saírem feridos o motorista Antônio Calheiros de Barros e o Capitão da Polícia Militar do Estado Waldemar da Silva Goes. Este último assistente militar do Governador  do estado (Arnon de Mello) encontra-se internado no Pavilhão de Cirurgia do  Hospital São Vicente em estado desesperador.”


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O Capitão Waldemar foi casado com a Srª Rosália Alves Goes, com quem teve os filhos: Ademar (militar), José, Gilvanete, Cícero e Irapuan (militar).


Por tudo que aqui conseguimos reunir, ainda que não corresponda integralmente ao que fez pela Força Pública do Estado de Alagoas, podemos assegurar que a sua promoção ao posto de Capitão foi justa e merecida. Quanto a nós, esperamos estar contribuindo para a perpetuação da memória desse bravo militar.

O Interventor Osman Loureiro e o correspondente do Diário
da Manhã. Foto: Roberto Plech

O Cel. Theodureto Camargo do Nascimento
e o Cel Lucena Maranhão. Foto: Roberto Plech


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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] José Sotero de Goes, filho de Manoel Sotero de Goes e Maria Joaquina de São José.

 

[ii] Silvina da Silva Maia. , filha de Arthur da Silva Maia e Maria dos Prazeres Silva.

 

[iii] Revista Alagoas em data ignorada.

 

[v] Saco dos Medeiros, localidade situada à margem esquerda do Rio São Francisco, acima da cidade de Traipu, quase defronte a Gararu-SE.

 

[vi] Dr. José Maria Correia das Neves, Secretário do Interior durante a interventoria do Sr. Osman Loureiro.

 

[vii] Diário da Manhã), em edição do dia 8 de agosto de 1938.

 

[viii] Diário da Manhã, Recife-PE, 7 de agosto de 1938.

 

[ix] Histórico do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas.

quinta-feira, 14 de março de 2024

AS AREIAS DA RUA DE CIMA E A IGREJA DO BONFIM

Por Etevaldo Amorim


Em Pão de Açúcar, houve um tempo em que a popular “Rua de Cima” era chamada de “RUA DA AREIA”. E não era sem razão.


Ainda pelo final da década de 1960, era comum ver as casas daquela via sendo praticamente invadidas pela areia, que vinha da extensa coroa que margeia o São Francisco. As partículas mais finas e mais leves, suspensas pela ação do vento sudeste, acumulavam-se no leito da rua e em todo o seu entorno, de tal modo que, em alguns pontos, quase não se via calçada.


Daí em diante, a ocorrência desse fenômeno foi aos poucos diminuindo, talvez pela alteração do regime de cheias do rio, em decorrência das barragens. Não havendo mais a renovação das areias quando das enchentes anuais, a sua composição foi se tornando mais argilosa e, portanto, mais pesada.


Os relatos desse fenômeno remontam ao início do século XX.


Da Mensagem dirigida ao Congresso Alagoano pelo governador Euclydes Malta, por ocasião da instalação da 2ª Sessão Ordinária da 6ª Legislatura, em 20 de abril de 1902, consta uma rubrica no valor de 5:000$000 (cinco milhões de Réis = 5 Contos de Réis) para o serviço de remoção das areias na cidade de Pão de Açúcar, autorizada que fora pela Lei nº 319, de 12 de junho de 1901, entregando-se à respectiva comissão 3:000$000 (3 contos de Réis).


A dita Comissão, encarregada de coordenar a execução dos serviços, fora constituída por Ato do mesmo Governador, em 22 de janeiro de 1902, assim composta: Cel. José da Silva Maia – “Cazuza” (Intendente); Major Manoel Antônio Machado e o vigário Antônio José Soares de Mendonça.[i]


A Comissão não perdeu tempo. Tanto que, já em abril daquele ano, o jornal A Fé Christã, em edição do dia 19, informa:


“O trabalho de remoção das areias que obstruíam grande extensão da Rua da Praia, está quase terminado. A Intendência despendeu 4:000$000 (Quatro Mil Contos de Réis) e o Governo do Estado 3:000$000 (Três Mil Contos de Réis).


“A procissão da Ressurreição desfilou pela rua desobstruída, cuja passagem, há seis anos, estava interceptada.”


De orientação católica, e vislumbrando a ocorrência de um fato extraordinário, o jornal faz uma revelação, de certa forma surpreendente, envolvendo a igreja do Bonfim. Diz a mesma matéria:


“Fato importante e que vai sendo comentado por todos:


As areias que formaram extensos montes e obstruíram a rua, quase soterrando muitas casas e quintais, não atingiam, entretanto, o terreno onde existiu a antiga capela do Senhor do Bonfim, cuja área foi somente ladeada por altos montes. Este fato, que é admirável, faz crer numa graça especial de Nosso Senhor. Não há outra explicação.


Em vista do exposto, o Sr. Coronel José da Silva Maia, que tão bons serviços tem prestado a este município, vai construir a Capela do Senhor do Bonfim no mesmo local, ficando a que foi, há pouco edificada na Praça do Marcos, dedicada à invocação de Nossa Senhora do Parto.”


Dessa notícia, depreende-se o seguinte:


Primeiro, que existiu outra “capela do Senhor do Bonfim”, na então chamada Rua da Praia; segundo, que a igreja do Senhor do Bonfim, que existe até hoje (remodelada) na praça de mesmo nome, foi construída entre o final do século XIX e o início do século XX, (tanto que a mesma notícia dá conta de que “Uma faísca elétrica danificou a frente da capela nova do Senhor do Bonfim, fulminando 19 carneiros que se achavam abrigados no oitão do edifício)”; terceiro, que ela continuou sob a mesma invocação, não se alterando para “Nossa Senhora do Parto”, de acordo com a promessa feita; e, por último, que a Praça do Bonfim se chamava “Praça do Marcos”. Mas, quem seria esse Marcos?...


rio São Francisco na cheia de 1919, em Pão de Açúcar
A igreja do Bomfim em 1919, vendo-se a praça tomada pelas
águas durante a grande cheia do rio São Francisco.

Bem, o trabalho foi concluído. O problema, aparentemente, desapareceu. Entretanto, o serviço não foi bem feito, como aponta a reportagem intitulada “AMEAÇA TERRÍVEL”, do jornal Gutenberg, de Maceió, em 10 de maio de 1911. Segundo ela, não passou de um paliativo, e não teve o poder de coibir as suas causas. Os encarregados do serviço, não sendo profissionais, se limitaram apenas a retirar as areias acumuladas na rua e espalhá-las da própria coroa, ignorando a iminência de uma nova invasão, dado que lá estaria a mesma areia e continuaria o mesmo vento sudeste a agir inexoravelmente.


A reportagem aponta ainda para a necessidade de uma ação preventiva, qual fosse a de implantar um “tapete de plantas” sobre parte da areia, coisa que existia, e cujas plantas foram “estupidamente arrancadas”.


Encontramos um relato dessa difícil situação, que transcrevemos do jornal O CRUZEIRO, de Penedo, publicado no dia 27 de agosto de 1909. Esse jornal era de propriedade de Manoel Caetano de Aguiar Brandão, filho do Dr. Félix Moreno Brandão e, portanto, irmão do historiador Francisco Henrique Moreno Brandão.


O texto não está assinado, mas sugere que seja do próprio Moreno Brandão, haja vista que, nesse mesmo jornal, no dia 29 de julho, há notícia de que ele estaria em Pão de Açúcar em busca de “melhoras para a saúde”. No dia 12 de agosto de 1909, o mesmo jornal diz que ele estaria melhor e que continuava em Pão de Açúcar. Por fim, na edição do dia 15 de outubro, o jornal diz:


Vindo do Sertão, onde permaneceu durante alguns meses, tivemos o prazer de abraçar o nosso prezado confrade Moreno Brandão, digno irmão do diretor desta folha.”


A matéria foi publicada no dia 27 de agosto e só em 15 de outubro ele estava de volta a Penedo. Por certo enviou o texto, sob encomenda, pela “Chata” Moxotó, que fazia a linha semanal regular Penedo-Piranhas, descendo às quintas-feiras.


Ei-lo:


PÃO DE AÇÚCAR, A CIDADE SOTERRADA

Como se tivesse passado sobre ela um sopro de desgraça, ei-la, a bela cidade sanfranciscana sepultada sob as areias; amortalhada em alvacentas nuvens de pó, envolta a alma dos seus infelizes habitantes no desespero que gera a certeza da impotência para lutar.


Dez anos havia que não pisávamos o solo pão-de-açucarense. Conservávamos na lembrança as belezas todas da cidade sertaneja, com sua casaria simétrica e alvadia, com suas incomparáveis renques de frondosas tamarineiras, com suas várzeas belíssimas. Um dia, sol a pino, com o coração torturado por intensa saudade, penetramos na terra que foi teatro de nossos brincos infantis.


Saudades levamos no coração, de crepe se cobriu nossa alma ante a desolação daquele torrão amado.


Casas em ruínas, montes enormes de areias a soterrar vivendas, donde espavoridos, loucos fugiam os moradores que, sem teto, sem abrigo, privados do lar que construíram, seus moradores iam à procura de um lar que os abrigasse!


Ruas desertas, uma tristeza de necrópole a pairar em toda parte. E diante de tanta dor, diante de tanta miséria, a indiferença dos poderosos, a indiferença daqueles que têm o dever iniludível de velar pelo bem-estar do povo.


As impressões que aí ficam toscamente registradas vê a propósito da resolução que acaba de tomar o Conselho Municipal de Pão de Açúcar de contrair com o Estado um empréstimo de 25:000$000 para a aquisição da empresa de águas daquela cidade.


Parece-nos que melhor andaria o governo municipal pão-de-açucarense aplicando tal empréstimo aos trabalhos de remoção das areias, que em época não remota soterraram completamente a cidade.


É preciso refletir que muitas dezenas de contos de réis serão assim salvas, além de que trata-se de benefício útil a todas as classes.


Esperamos que, melhor orientados, os representantes municipais de Pão de Açúcar tomarão em consideração o apelo que, em nome do povo, ora fazemos aos seus sentimentos patrióticos.”


Há muito tempo sem a ameaça das areias, segue em paz e promissora a “Rua de Cima”, que já foi “São Francisco” e atualmente se chama “Vereador Germínio Araújo Costa”.

 

Pão de Açúcar. A praça do Bonfim com a igreja ao fundo.

NOTA:

 

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] CIDADE DO RIO, Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 1902. 

sexta-feira, 8 de março de 2024

A PARÓQUIA DE PÃO DE AÇÚCAR – DO DÉCIMO AO DÉCIMO SEGUNDO VIGÁRIO

 

Por Etevaldo Amorim

PE. JOSÉ NASCIMENTO DE OLIVEIRA


O Padre José Nascimento

O décimo vigário foi nomeado em 5 de janeiro de 1967, tendo tomado posse a 17 do mesmo mês e ano. Discreto e capaz, o padre Nascimento soube muito bem conduzir o rebanho católico da nossa terra, dedicando-se especialmente às atividades pastorais.

Deixou-nos um legado: a colaboração com o vereador Pedro Lúcio Rocha para a letra do Hino do Município, instituído pela Lei nº 399, de 15 de setembro de 1969, com música do Maestro Manoel Passinha (Manoel Capitulino de Castro).

Filho de Pedro Raimundo da Silva e Maria José do Nascimento, José Nascimento de Oliveira nasceu em Palmeira dos Índios no dia 7 de setembro de 1936.

Ele iniciou os estudos primários na terra natal, indo depois para o Seminário de Maceió fazer o curso Ginasial.

Para cursar Filosofia, foi para o Seminário de João Pessoa-PB. Ocorreu, no entanto, que o Seminário fechou e ele seguiu então para o de Olinda. Em seguida, foi para o Seminário de Viamão-RS, onde fez Teologia.

Ordenou-se em Palmeira dos Índios no dia 17 de julho de 1966 e sua primeira paróquia foi a de Pão de Açúcar.

Atualmente, ostenta o título de MONSENHOR JOSÉ NASCIMENTO DE OLIVEIRA e atua na Paróquia de São Sebastiao, da Diocese de Palmeira dos Índios.

 

O Pe. Nascimento em evento político, seguido do Sr. Augusto Machado, do
vereador Antônio Alves da Silva (Totonho Pampia), do Sr. Ronalço dos Anjos,
do vereador Pedro Lúcio Rocha e do vereador "Joaquim do Vale", em 1969.

O Monsenhor José Nascimento


PE. PETRÚCIO BEZERRA DE OLIVEIRA

O Monsenhor Petrúcio Bezerra de Oliveira


Filho de Euclides Bezerra de Assunção e Vitória Bezerra de Oliveira (Vitória Ferreira), nasceu o Monsenhor Petrúcio em Paulo Jacinto, no dia 8 de outubro de 1941, tendo como irmãos Maria Cícera Bezerra, Maria Selma Bezerra, Geraldo Bezerra (in memorian) e Sávio Bezerra.

Iniciou seus estudos na sua terra natal, entrando depois para o Seminário de Maceió, donde seguiu para o Seminário de Olinda, principiando o estudo de Filosofia para continuá-lo no Seminário de Viamão, Estado do Rio Grande do Sul, juntamente com o Curso de Teologia.

Sua ordenação se deu em Paulo Jacinto, em 25 de julho de 1969, e suas atividades sacerdotais se iniciaram em Palmeira dos Índios como Vigário Cooperador do Pe. Odilon Amador, pão-de-açucarense.

Em 21 de janeiro de 1971, tomou posse na Paróquia de Pão de Açúcar, acompanhado do Bispo Dom Otávio Aguiar, da Diocese de Palmeira dos Índios e do Pe. Luiz Ferreira Neto.

Lembrando o missionário Frei Cassiano de Comacchio, conhecido construtor nos idos do Século XIX, o Pe. Petrúcio é também um exímio empreendedor. A começar pela reforma da Casa Paroquial, suas obras, espalhadas por todos os recantos da sua circunscrição, que envolvia também os municípios de Palestina e São José da Tapera, dão a marca do incansável realizador.

O Padre Petrúcio trabalhando com a comunidade em obra de cunho
social em Pão de Açúcar.

Para relacionar todas elas, em tantos anos de paroquiato, procurando evitar possíveis omissões, recorremos ao próprio, do que resultou o seguinte:

Em Pão de Açúcar. Construção da Igreja do Povoado Santiago; construção da Igreja do bairro COHAB; construção da Igreja de São Pedro; construção da Igreja do Povoado Ipueiras; reforma na Igreja de Meirus; reforma na Igreja do Limoeiro; reforma, por três vezes, na Igreja Matriz, sendo a última em 2003; construção de 126 casas para famílias carentes (inclusive as do Conjunto dos Idosos (Lar São Vicente, com 18 casas) e Conjunto Dom Bosco, com 50 casas); reforma e ampliação do Colégio São Vicente; construção dos Centros Sociais do Colégio São Vicente, do Alto Fonseca e de Meirus; construção de creches nas localidades: Limoeiro, Jacarezinho, Machado, Meirus; duas em Ipueiras e três na cidade.

2.   Em São José da Tapera. Construção de um Centro Social; construção da igreja do povoado Torrões; reforma da Igreja Matriz de São José; construção do Colégio João Paulo II.

3.     Em Palestina. Construção de uma creche; construção de um Centro Social.

 

O Pe. Petrúcio e as Irmãs Franciscanas de Santo Antônio de Pádua,
em evento no Colégio São Vicente, vendo-se o Sr. Ciro Vera Cruz,
o prefeito Antônio Gomes Pascoal, a Srtª Margareth Augusta,  a Srª
Sheyla Menezes e seu esposo o Deputado Federal Antônio Ferreira.

O Pe. Petrúcio no mesmo evento no CSV, vendo-se na primeira fila
as Irmãs, o prefeito Pascoal, o prof. José de Brito e, à direita, o De-
putado Federal Antônio Ferreira e sua esposa Sheyla Menezes.

O Pe. Petrúcio em evento social com as Irmãs, vendo-se à esquerda,
a Srª Maria Mercedes Ribeiro Gomes e, à frente, a Srtª Sheila Brito.


Ressalte-se ainda o trabalho social realizado com as irmãs Franciscanas (holandesas): Curso de Arte Culinária, Datilografia, Informática, Corte e Costura, e Escola de 1º e 2º Graus, inclusive profissionalizante.[i]

Foi, por muitos anos, presidente da Sociedade Educacional e Assistencial da Paróquia de Pão de Açúcar. Ampliou o Ensino Fundamental, hoje em 9 anos, implantou os cursos de Técnico Agrícola e Técnico em Enfermagem. em 1976, e o curso de Nível Médio, em três anos, em 1994. Em 2006 implanta o Ensino Superior, com a Faculdade São Vicente.[ii]

O padre Petrúcio, com seus quarenta e sete anos de paroquiato, só não conseguiu superar a longevidade do Padre Mendonça, o primeiro da Paróquia. Mas continua ainda em atividade, não obstante os seus oitenta e três anos de idade.

A esse homem, notável idealizador e construtor incansável, Pão de Açúcar deve muito.

O Pe. Petrúcio à direita, em evento no CSV, seguido de Celso dos Anjos,
Givaldo Sandes Dias, Antônio da Paz, Ascânio Correia, Adonai Dias Lima,
Cliuton Santos, Dep. José Bernardes, José Hamilton Monteiro, Maria Alves
Melo, Dep. José Medeiros e senhora, e Antônio R. Correia (Tonho Bié).

O Pe Petrúcio à esquerda, em evento no Colégio São Vicente, seguido do Ver. Etevaldo Amorim,
do Maestro Petrúcio Ramos, Sr. Antônio Carlos Lima Rezente (Cacalo), Cacau Machado, do sindicalista
Pedro  Lúcio Rocha, Eberval Almeida e Ver. Marco Antônio Campos Tavares, provavelmente em 1992.


PE. THIAGO HENRIQUE SOARES PINTO TAVARES.


O Padre Thiago Henrique


Atualmente, está à frente da Paróquia de Pão de Açúcar o padre Thiago Henrique Soares Pinto Tavares.

Nasceu a 17 de abril de 1979 e foi ordenado em 30 de novembro de 2005.

 Em novembro de 2018, com a aposentadoria do Monsenhor Petrúcio Bezerra, e devido ao falecimento das queridas irmãs holandesas, assumiu a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e a Presidência da Sociedade Educacional e Assistencial da Paróquia de Pão de Açúcar, mantenedora da Faculdade São Vicente, o Pe. Thiago Henrique Soares Pinto Tavares. Jovem, experiente e com bastante determinação, vem reoxigenando a instituição e lhe devolvendo o título de maior instituição de ensino superior do sertão alagoano. Fonte: https://fasvipa.com.br/instituicao/

Teve sua formação ao sacerdócio no Seminário São João Maria Vianney, em Palmeira dos Índios, Alagoas, e no Seminário São Pedro, em Natal, no Rio Grande do Norte, sendo ordenado diácono em abril de 2005, e sacerdote em novembro desse mesmo ano.

Padre Thiago é presbítero da Diocese de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Já foi o Vigário Paroquial da Catedral de Nossa Senhora do Amparo e, atualmente, exerce os seguintes ofícios na respectiva Diocese: Reitor do Seminário São João Maria Vianney; Vigário Judicial da Diocese; Diretor do Colégio Diocesano Sagrada Família; e Diretor Espiritual do Encontro de Casais com Cristo.

O sacerdote é bastante conhecido pela Renovação Carismática Católica do Estado de Alagoas por suas pregações, sendo sempre convidado para participar de congressos e retiros promovidos por esse movimento da igreja católica.



[i] SILVA, Derllânio Telécio da. TRABALHO EDUCACIONAL DA FREIRA FRANCISCANA “IRMÔ REDENTA NO SERTÃO ALAGOANO, SÃO JOSÉ DA TAPERA (1977-2018). Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão, Curso de História. Delmiro Gouveia, 2020.

[ii] Fonte: Adalberto Gomes Notícias. Acesso em: 8 out. 2017.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia